PhiloBiblon 2023 n. 1 (fevereiro). Escrita de história, memória e gestão de um grupo familiar da nobreza portuguesa, séc. XV-XVI: descoberta, recuperação e estudo de manuscritos inéditos

Mª de Lurdes Rosa, Margarida Leme, Fábio Duarte e Miguel Ayres de Campos
Instituto de Estudos Medievais
Universidade Nova de Lisboa
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
VINCULUM ERC project

É com gosto e entusiasmo que partilhamos a descoberta de uma crónica nobiliárquica quinhentista, há muito perdida, e de dois inventários de arquivo de família com ela relacionados, e igualmente apenas há poucos anos recuperados – sendo o seu estudo integrado um trabalho inédito em curso.

Descobertas

O manuscrito da crónica nobiliárquica quinhentista, conhecido como Descendência e linhagem dos Castelo-Branco (doravante Crónica), está datado de 1588 e contém um longo texto de 261 fólios, em escrita elegante e cuidada. Em cento e dezasseis capítulos narra a história e a genealogia de um grupo familiar da nobreza portuguesa, os Castelo-Branco, estando dedicada a um dos seus expoentes ilustres na época, Duarte Castelo-Branco, conde do Sabugal, meirinho-mor e vedor da Fazenda. Encontra-se nas mãos de um colecionador privado, Doutor Miguel Ayres de Campos, que a cedeu de forma generosa ao projeto VINCULUM para ser estudada e editada.

Este projeto, financiado pelo European Research Council, tem com o objetivo o estudo do funcionamento das instituições de morgados e capelas (vinculação), em Portugal e seus territórios atlânticos, em perspetiva comparada com outros reinos do sul da Europa[i]. A forma como os grupos sociais que recorriam ao estabelecimento de vínculos para reforço da sua riqueza identitária e simbólica é uma das áreas de estudo  de projeto VINCULUM, na qual materiais como as narrativas genealógicas e familiares tem grande relevo. Por acréscimo, o grupo familiar dos Castelo-Branco, que se organiza em diversos núcleos fortes, ricos e influentes na Corte portuguesa desde inícios do século XV, permite um dos mais interessantes estudos de caso do projeto.

Uma característica comum aos vários núcleos, entre os quais o dos Conde do Sabugal, foi a atenção aos arquivos e às práticas de gestão de informação das casas e das propriedades; uma outra, o cultivo das belas-letras e de vários tipos de saberes técnico – científicos. A literacia jurídica e contabilística permitiu-lhe aceder por gerações a cargos cimeiros da corte, ligados ao direito e à gestão do reino e dos bens régios, desde a Casa do Cível à vedoria da fazenda, passando pelo meirinhato-mor. A influência política dos Castelo-Branco permitiu que assumissem posições de relevo também no interior dos conselhos e juntas que auxiliaram monarcas portugueses e espanhóis. Entre os vários ramos, avultam senhores que cultivavam saberes como a astronomia, matemática e genealogia. A título de exemplo, tenha-se em consideração que Martinho, primeiro conde de Vila Nova de Portimão, foi íntimo do humanista italiano, residente em Lisboa, Cataldo Sículo; que no espólio fúnebre de um dos seus netos, morto em Alcácer Quibir, se encontrava “um livro de Luis de Camões” e um outro de Ludovico Ariosto; e que Manuel de Castelo-Branco, segundo conde de Vila Nova, foi autor de um livro com árvores genealógicas da aristocracia portuguesa, impresso em 1625, e de uma relação manuscrita acerca da história da sua linhagem.

A Crónica de que agora se trata espelha bem a riqueza de informação circulante no grupo, quanto ao seu passado e ao seu presente. São inúmeros os documentos e os livros citados, pelo que se vê de uma primeira análise. O conhecimento dos arquivos da família era especialmente prezado, e o estudo da Crónica será enriquecido com o de dois outros manuscritos, descobertos no âmbito de um dos projetos antecessores do VINCULUM, o projeto INVENTARQ[ii].

Também em mãos privadas, e generosamente disponibilizado para estudo, em 2015, ao grupo ARQFAM[iii] e, agora, ao projeto VINCULUM, é o Livro da Fazenda do Senhor Conde Meirinho-Mor e rendimento dela e dos seus papeis e outras lembranças. Códice in 4º, de 293 páginas numeradas, encadernado em pele, datado também de 1588, fez parte do Arquivo da Casa de Óbidos onde terá entrado pelo casamento da condessa de Sabugal e Palma com o 2º conde de Óbidos, em 1669. No arquivo da Casa terá permanecido mesmo depois de ter sido entregue, já no século XX, ao marquês de Santa Iria herdeiro dos condes de Óbidos. Está agora nas mãos de um colecionador privado, Arquiteto Jorge Brito e Abreu. Apresenta com a Crónica muitas semelhanças materiais, desde logo o tipo de letra; o seu restauro total, a finalizar em 2023, permitirá a leitura de páginas muito danificadas, e uma analise cuidada.

Já o Tombo do Cartório da Casa de Vila Nova de Portimão, atualmente à guarda do Centro de Documentação do Museu Municipal de Portimão, após compra no mercado livreiro, é proveniente da dispersão do arquivo da Casa de Abrantes pelos proprietários, ao longo da segunda metade do século XX. Ao que tudo indica, foi mandado fazer pelo segundo Conde de Vila Nova de Portimão, com sua direta intervenção; a redação final datará dos primeiros anos do século XVII, mas a empreitada deve ter começado nas últimas décadas da centúria anterior – o que o coloca em provável contemporaneidade com os dois documentos Sabugal. Foi editado e estudado por um dos atuais membros da equipa do projeto, Fábio Duarte, na sua tese de mestrado[iv], no âmbito de  programa ARFAM, a decorrer na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da U. Nova de Lisboa desde 2010 e da área de formação em Arquivística Histórica da mesma instituição.

Tombo
Portada do Tombo do Cartório do Casa de Vila Nova de Portimão

Embora não se saiba, igualmente, quem foi o responsável pela elaboração do Tombo do Cartório, note-se que esta, como as outras iniciativas já referidas, foi acompanhada de perto pelos membros da família Castelo-Branco e levada a cabo num breve intervalo de tempo. Não deixa de ser curioso apontar que, concomitantemente, em 1609, Gaspar Coelho Aranha, prior da vila da Atalaia, terminava a mando do terceiro conde de Sortelha, D. Luís da Silveira, genro do segundo conde de Vila Nova, a composição da Tabuada do cartório da Casa de Sortelha[v]. Aqui, uma vez mais, a reorganização de um arquivo familiar surgia a par da veiculação de uma ideia de memória nobiliárquica e da defesa do património conservado e transmitido durante gerações. O cura arquivista faz uma sugestão que poderá parecer estranha, ou megalómana, mas que afinal reflete a extrema importância conferida aos documentos familiares: o Conde deveria estabelece em Góis, vila principal entre as suas propriedades, um arquivo que albergasse os seus preciosos originais. Este arquivo chamar-se-ia, nem mais nem menos, do que «Torre do Tombo de Goez», e o cura relembra que o segundo conde, avô do atual, mandara fazer uma coleção de grande “tombos” semelhantes aos dos reis, onde registaram os seus bens e direitos. Num contexto alargado, estas composições e reorganizações de arquivos – que, como veremos, irão servir a Crónica – testemunham claramente de uma prática de escrita de gestão e de história-memória-genealogia dos Castelo-Branco e famílias afins, na qual avultam alguns longuíssimos testamentos que são, na verdade, “tratados de domesticidade”, contendo instruções aos sucessores sobre gestão política, económica, religiosa e afetiva das Casas e dos homens e mulheres por elas abarcados.[vi]

Autorias

Se para os dois inventários de Arquivo, as autorias – que se colocam, de resto, de modo diverso do que para um texto literário – estão parcialmente esclarecidas, quanto à Crónica tal não sucede ainda. No momento atual, colocamos mesmo a hipótese de 1588 ser a data não da redação, mas sim de uma cópia, feita para Duarte de Castelo-Branco, mesmo se o texto está dedicado àquele titular. O Prólogo pede vénia de erros de copista que não sabia ler latim, pelo que foi escrito após um exame da cópia, que teve aliás outros acrescentos e retificações expressamente referidos no Prólogo. Este terá sido por copiado após finalizado, incluindo a advertência quanto aos erros, pelo mesmo calígrafo do resto, e colocado no caderno inicial do livro.

Outros indícios apontam para escritas em diversos momentos, ou incorporações de outros textos. No capítulo 57 escreve-se “…foraõ aas mujtas moradas de casas da famosa rua Nova de Lisboa que ora são do meirinho moor dom Duarte de Castelbranco e lhe rendem mais de hum conto de reis”. A menção a Duarte Castelo-Branco é algo indireta, não se parecendo com outras que lhe são feitas como promotor da Crónica; sobretudo, não é referido como chamam “Conde”, título que já detinha em 1588.

Indubitável e impressionante é a quantidade de obras e documentos citados, bem como a qualidade da informação deles tirada, com frequência citações diretas. Transmite a clara noção que alguém estava a trabalhar num arquivo. Dizendo muitos dos capítulos ricos em citações documentais respeito a outros ramos que não os Sabugais, é forte a hipótese de uma empresa conjunta, ou pelo menos abertura dos vários arquivos. D. Manuel de Castelo-Branco, conde de Vila Nova de Portimão, acima referido, poderá ter sido nela central, pela sua mestria e fama como genealogista.

Já a entrega do trabalho em si ao um certo Luís Ferreira de Azevedo, que circula desde o século XIX, a partir de uma nota manuscrita de autor não identificado, no manuscrito, parece-nos pelo menos questionável. É conhecido pela entrada que lhe dedica Barbosa Machado na Biblioteca Lusitana (III: 94), a quem se deve de resto quase todas as informações que dele existem. Terá sido cronista-mor por um pequeno intervalo de tempo no início do séc. XVII e guarda-mor da Torre do Tombo. Na verdade, lendo o elenco de obras dado por Barbosa Machado, nada parece garantir que a Crónica dos Castelo-Branco se identifique com o trabalho aí citado. O que efetivamente se lhe atribui são genealogias de uma série de famílias, entre os quais os Castelo-Branco, “de quem dizia ser descendente”, o que parece indicar um trabalho produzido num espírito inteiramente diferente do da Crónica[vii].

Percursos

Estão por fazer os estudos dos percursos destes valiosos documentos. Terão feito parte da enorme quantidade de documentação de constituição e de gestão produzida pelos vários grupos familiares acima referidos, e outros semelhantes, ligados entre si por matrimónios fortemente endogâmicos que se concentraram ao longo dos séculos 17 e 18 em duas grandes Casas – Abrantes e Santa Iria. Os arquivos destas foram dispersos durante as duas centúrias seguintes, e estão hoje na sua maioria conservados em arquivos públicos e privados – embora exista ainda muito por descobrir, como prova os achados de que agora falamos.

Quanto à Crónica, dados até agora recolhidos permitem saber que fez parte da coleção do arquiteto bibliófilo Jose Maria Nepomuceno e vendida no leilão da mesma, em 1897, a Francisco Arthur da Silva, editor e livreiro[viii]. O catálogo não fornece, lamentavelmente, qualquer indicação sobre a proveniência e não se sabe, pois, como Nepomuceno a adquiriu. Terá feito parte do Arquivo e da Biblioteca da Casa de Óbidos, Palma e Sabugal, cujas histórias de constituição e dispersão estão também por fazer[ix]. O arquivo estaria ainda numa fase de vitalidade em 1836, quando é feito um extenso inventários dos seus milhares de documentos; encontra-se nele o Livro da Fazenda do Senhor Conde Meirinho-Mor (p. 416) mas não a Crónica, o que poderá simplesmente explicar-se pelo facto deste tipo de documentos serem antes conservados nas bibliotecas das Casas. A investigação preliminar conduzida nos inventários de livros existentes no Arquivo da Casa de Sta. Iria não produziu resultados.

Um escasso ano depois do leilão de Nepomuceno, em 1898, Francisco Arthur da Silva irá colocá-lo de novo em leilão, com o valor, a crer na indicação lateral, de 6.500 reis; não terá sido arrematado, pois o Apêndice mostra que ficou para o próprio[x]. A cópia do pequeno extrato existente na Biblioteca Pública de Évora e dado a conhecer por Rafael Moreira em 2022[xi], permite saber que o Arquiteto Nepomuceno a deixava consultar a amigos; desta consulta resultou a dita cópia parcial[xii]. Entre a venda por Francisco Arthur da Silva e o recente aparecimento em leilão, de 2016, há um hiato total.

Deve por fim mencionar-se uma sua versão abreviada num arquivo de família hoje depositado na Casa de Sarmento, em Guimarães. Intitulada Epílogo do livro da linhagem: dos de Castelobranco, é obra de um certo Bernardo Amaral Castelo-Branco. Provém do arquivo de uma casa da região vimaranense, a Casa do Costeado, e (ao contrário do que indica o catálogo online) foi feito já em 1610 – se bem que claramente por alguém que teve acesso à cópia da Crónica que agora nos ocupa.

Futuro

A Crónica e o Livro da Fazenda estão a ser alvo de trabalhos de restauro conservação, e serão posteriormente digitalizados para disponibilização pública. Fazem parte de um conjunto mais vasto de documentação cujo restauro e digitalização foram custeadas pelo projeto VINCULUM. A Crónica será apresentada, em conjunto com os restantes manuscritos, num seminário a realizar na FCSH.NOVA, a 28 de Abril de 2023, organizado pelo projeto, e de cujos resultados informaremos o blog!

[i] Entailing Perpetuity: Family, Power, Identity. The Social Agency of a Corporate Body (Southern Europe, 14th-17th Centuries) – ERC Consolidator grant 819734 .
[ii] Inventários de arquivos de família, sécs. XV-XIX: de gestão e prova a memórias perdidas. Repensando o arquivo pré-moderno EXPL/EPH-HIS/0178/2013 .
[iii] Arquivos de familia, Arquivos de comunidade(s). Arquivística, História, Herança cultural.
[iv] Fábio DUARTE, Herdar, Legar e Registar: o arquivo e o Tombo do Cartório da Casa de Vila Nova de Portimão. Degree: MA in History – specialization in Modern History and History of the Discoveries. FCSH-UNL, 2022.
[v] Análise em Maria de Lurdes ROSA, Penser et organiser les archives de famille, entre histoire et archivistique. In: Les archives familiales dans l’Occident médiéval et moderne: Trésor, arsenal, mémorial [en ligne]. Madrid: Casa de Velázquez, 2021 (généré le 16 septembre 2021).
[vi] O testamento do segundo conde é talvez o mais exemplar, e está publicado (ROSA, op. cit. p. 72); mas os testamentos manuscritos inéditos dos Castelo Branco são de idêntico talhe.
[vii] Neste aspeto não podemos, portanto, concordar com a atribuição feita por Rafael MOREIRA, O casamento da Infanta D. Beatriz em Sabóia (1521) e a mais antiga alusão a Gil Vicente. In: Anais de História de Além-Mar 21 (2020): 349-82 (p. 352-53).
[viii] Francisco Arthur da Silva (ed.), Catalogo da livraria do distincto bibliografico e bibliophilo José Maria Nepomuceno (…).  Lisboa: Empreza Editora de Francisco Arthur da Silva, 1897 (lote 2187).
[ix] Margarida LEME– O Arquivo Costa no Arquivo Óbidos Palma Sabugal. In ROSA, Maria de Lurdes (org.) – Arquivos de família, séc. XIII-XX: que presente, que futuro?. Lisboa: IEM; CHAM; Caminhos Romanos, 2012, pp. 279-90. O arquivo foi disperso entre 1995 e 2004;  tendo a maior parte sido adquirida em 1995, pelo ANTT, onde se encontra atualmente com o nome de Casa de Santa Iria.
[x] Francisco Arthur da Silva (ed.), Catalogo de uma boa colleçáo de livros raros, curiosos e manuscriptos de varias procedencias. Lisboa: Empreza Editora de Francisco Arthur da Silva, 1898 (lote 1124).
[xi] MOREIRA, O casamento.  A descoberta do manuscrito integral da Crónica permitirá corrigir algumas das hipóteses deste artigo, decorrentes da versão disponível ao autor.
[xii] Foi também vendido no leilão de 1898 (catálogo cit. supra, lote 1099, p. 107), no qual é identificado como “cópia de letra moderna” do manuscrito genealógico dos Castelo-Branco.



PhiloBiblon 2023 n. 1 (February) Texts of history, memory and management by a family group of the Portuguese nobility, 15th-16th century: discovery, recovery and study of unpublished manuscripts

Mª de Lurdes Rosa, Margarida Leme, Fábio Duarte e Miguel Ayres de Campos

Instituto de Estudos Medievais
Universidade Nova de Lisboa
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
VINCULUM ERC project

It is with pleasure and enthusiasm that we share the discovery of a long-lost 16th-century noble chronicle and the inventories of two related family archives, both of them only recently recovered – their integrated study is an innovative work in progress.

Discoveries

The manuscript of the 16th-century noble chronicle known as Descendência e linhagem dos Castelo-Branco (hereinafter Crónica), dated 1588, contains a long text of 261 folios, in elegant and careful script. In one hundred and sixteen chapters, it narrates the history and genealogy of a family group of Portuguese nobility, the Castelo-Brancos, and is dedicated to one of its illustrious members of the period, Duarte Castelo-Branco, Count of Sabugal, meirinho-mor and vedor da Fazenda of the kingdom of Portugal. It is owned by a private collector, Doutor Miguel Ayres de Campos, who has generously loaned it to the VINCULUM project to be studied and edited.

This project, funded by the European Research Council, aims to study the functioning of the institutions of primogeniture (morgados) and chantry (endowed) chapels (vinculação/entailment) in Portugal and its Atlantic territories, in comparison with the same institutions in other kingdoms of southern Europe.[i] The way in which social groups used the establishment of vínculos/entails to reinforce their identity and symbolic wealth is one of the study areas of the VINCULUM project, in which materials such as genealogical and family narratives have great relevance. In addition, the Castelo-Branco family group, which comprised several strong, wealthy and influential nuclei at the Portuguese Court from the beginning of the 15th century, will be one of the most interesting case studies of the project.

A common feature of the various nuclei, including that of the Count of Sabugal, was the attention given to archives and the information management practices of the various houses and estates; another was the cultivation of the fine arts and various kinds of technical and scientific knowledge. Legal and accounting literacy allowed different members of the group to gain access for generations to top positions at court, linked to law and the management of the kingdom and royal property, from the House of the Civil Court to the treasury and the meirinhato-mor. The Castelo-Branco’s political influence allowed them to assume important positions within the councils and boards that assisted and advised Portuguese and Spanish monarchs. Among the various branches were lords who cultivated fields such as astronomy, mathematics, and genealogy. A few examples: Martinho, first Count of Vila Nova de Portimão, was a close friend of the Italian humanist and Lisbon resident, Cataldo Sículo; in the estate of one of his grandsons, killed at the battle of Alcácer Quibir, there was “a book by Luis de Camões” and another by Ludovico Ariosto; Manuel de Castelo-Branco, second Count of Vila Nova, was the author of a book with family trees of the Portuguese aristocracy, printed in 1625, and a handwritten account of the history of his lineage.

The Crónica reflects the wealth of information circulating in the group about its past and present. It cites numerous documents and books, as a preliminary analysis has shown. Knowledge of the family archives was especially prized, and the study of the Crónica will be enriched by that of two other manuscripts, discovered within the scope of one of VINCULUM’s predecessor projects, the INVENTARQ project[ii].

Also in private hands, and generously made available for study in 2015 to the ARQFAM group[iii] and now to the VINCULUM project, is the Livro da Fazenda do Senhor Conde Meirinho-Mor e rendimento dela e dos seus papeis e outras lembranças (Book of the Estates and property of the Lord Count Meirinho-Mor, his income, papers and other mementos). A codex in 4º, with 293 numbered pages, bound in leather, also dated 1588, it formed part of the House of Óbidos Archives, where it probably entered through the marriage of the Countess of Sabugal and Palma to the 2nd Count of Óbidos in 1669. It remained in the Óbidos archives even after they passed in the 20th century into the hands of the Marquis of Santa Iria, heir of the counts of Óbidos. It is now owned by a private collector, the architect Jorge Brito e Abreu. It has many material similarities with the Crónica, such as the script; the restoration of severely damaged pages, to be completed in 2023, will make possible a careful analysis.

The Tombo do Cartório do Casa de Vila Nova de Portimão, currently in the custody of the Centro de Documentação do Museu Municipal de Portimão, after purchase from the book trade, comes from the dispersal of the House of Abrantes archive by its owners during the second half of the 20th century. It was apparently commissioned by the second Count of Vila Nova de Portimão, with his direct intervention; the final redaction dates from the early 17th century, but the work must have begun in the last decades of the previous century – which makes it probably contemporary with the two Sabugal documents. It was edited and studied by one of the current members of the project team, Fábio Duarte, in his master’s thesis as part of the ARQFAM program,[iv] which has been underway at the Faculty of Social and Human Sciences at the Universidade Nova of Lisbon since 2010, and the training program in Historical Archival Studies at the same institution.

Tombo
Portada do Tombo do Cartório do Casa de Vila Nova de Portimão

Although it is also not known who was responsible for preparing the Tombo do Cartório, it should be noted that this, like the other initiatives already mentioned, was closely monitored by members of the Castelo-Branco family and carried out in a short period of time. It is also interesting to note that, at the same time, in 1609, Gaspar Coelho Aranha, the prior of the village of Atalaia, was completing the Tabuada do cartório da Casa de Sortelha (Table of contents of the Cartulary of the House of Sortelha), ordered by the third Count of Sortelha, D. Luís da Silveira, son-in-law of the second Count of Vila Nova.[v] Here, once again, the reorganization of a family archive went hand in hand with the propagation of an idea of noble memory and the defense of a heritage preserved and passed down for generations. The archivist makes a suggestion that may seem strange, or megalomaniac, but which ultimately reflects the extreme importance attached to family documents: the Count should establish in Góis, the main town among his estates, an archive that would house his precious originals. This archive would be called the “Torre do Tombo de Goez,” and the chaplain recalls that the second Count, grandfather of the current Count, had ordered a collection of large “tombos,” cartularies, similar to those of kings, in which they recorded their properties and rights. In a broader context, these compositions and reorganizations of archives – which, as we shall see, underpin the Crónica – are clear evidence of a practice of management by writing, and history-memory-genealogy of the Castelo-Branco and related families, which includes some very long wills that are, in fact, “treaties of domesticity,” containing instructions for successors on the political, economic, religious and affective management of the Houses and the men and women they encompassed.[vi]

Authorship

If for the two archival inventories, the authorship – which is different from that of a literary text – is partially understood, this is not yet so for the Crónica. At the present time, we even hypothesize that 1588 is the date not of composition but of a copy made for Duarte de Castelo-Branco, despite the fact that the text is dedicated to him. The Prologue asks for forgiveness for the errors of a copyist who could not read Latin – which points to the fact that it it was written after the rest of the text, which has other additions and rectifications expressly mentioned in the Prologue. This initial part was thus probably copied after the Crónica was finished, with the warning about the errors, by the same scribe as the rest, and placed in the book’s initial gathering.

Other indications point to writings at various times or the incorporation of other texts. In chapter 57 one finds “…foraõ aas mujtas moradas de casas da famosa rua Nova de Lisboa que ora são do meirinho moor dom Duarte de Castelbranco e lhe rendem mais de um conto de reis.” […there were many dwellings in the famous Rua Nova of Lisbon that now belong to the merinho mor lord Duarte de Castelobranco and bring him in as rent more than 100,000 reis]. The reference to Duarte Castelo-Branco is somewhat indirect, not like others that mention him as promoter of the Crónica; above all, he is not mentioned as “Count,”  title he already held in 1588.

Undoubtedly impressive is the quantity of works and documents cited as well as the quality of the information taken from them, often direct quotations. It conveys the clear notion that someone was working in an archive. As many of the chapters rich in document citations concern branches other than the Sabugais, the hypothesis of a joint venture, or at least consultation of various archives, is strong. D. Manuel de Castelo-Branco, Count of Vila Nova de Portimão, mentioned above, may have been central to it, given his mastery and fame as a genealogist.

In contrast, the attribution of the text to a one Luís Ferreira de Azevedo, which originated in note in an unidentified hand on the manuscript and has been circulating since the 19th century, seems to us at least questionable. Ferreira de Azevedo is known by the entry dedicated to him by Barbosa Machado in the Biblioteca Lusitana (III: 94), to which we owe almost all the information known about him. He might have been chronicler-major for a short time in the early 17th century and head keeper of the Torre do Tombo. In fact, reading the list of works given by Barbosa Machado, nothing seems to identify the Crónica with the titles cited. What is effectively attributed to him are genealogies of a series of families, among them the Castelo-Branco family, “from whom he claimed to be descended,” which seems to indicate a work produced in an entirely different spirit from that of the Crónica.[vii]

Provenance

Studies of the provenance of these these valuable documents have yet to be undertaken. They would have formed part of the enormous quantity of documentation produced by the various family groups mentioned above and others like them, linked together by strongly endogamous marriages, which came to be concentrated in the 17th and 18th centuries in two great Houses – Abrantes and Óbidos. Their archives were dispersed over the following two centuries and are today mostly preserved in public and private archives – although there is still much to be uncovered, as proven by the discoveries we are discussing now.

As for the Crónica, data gathered so far allows us to know that it came to be part of the collection of the bibliophile architect Jose Maria Nepomuceno and was sold at his auction in 1897 to Francisco Arthur da Silva, publisher and bookseller.[viii] The sale catalogue unfortunately gives no indication of provenance and it is not known, therefore, how Nepomuceno acquired it. It must have been part of the Archive and Library of the House of Óbidos, Palma and Sabugal, the histories of whose constitution and dispersal are yet to be written.[ix] The archive was still active in 1836 when an extensive inventory of its thousands of documents was made; in it can be found the Treasury Book of the Lord Count Meirinho-Mor (p. 416) but not the Crónica, which can be explained quite simply by the fact that this type of documents were kept in the House libraries, not the archives. Preliminary research conducted on the book inventories in the Casa de Santa Iria Archive, however, was fruitless.

A year after Nepomuceno’s auction, in 1898, Francisco Arthur da Silva put the Crónica up for auction again, with a reserve price, according to the handwritten note on the margin of the auction, of 6.500 reis; it seems that it did not sell, since the Appendix shows that it was left to the owner.[x] The copy of the small extract held in the Biblioteca Pública de Évora and published by Rafael Moreira in 2022, allows us to know that Nepomuceno used to let friends consult the Crónica[xi]; which was apparently the source of this partial copy.[xii] There is a total gap between the sale by Francisco Arthur da Silva and the Crónica’s recent appearance at auction in 2016.

Finally, we should mention the existence of an abridged version of the Crónica in a family archive now held at Casa de Sarmento. Entitled Epílogo do livro da linhagem: dos de Castelobranco (Epilogue of the book of the lineage: dos de Castelobranco), it is the work of a certain Bernardo Amaral Castelo-Branco. It comes from the archive of a house in the Guimarães region, the Casa do Costeado, and (contrary to what the online catalog indicates) was made as early as 1610 – clearly by someone who had access to the copy of the Crónica.[xiv]

Future

The Crónica and the Livro da Fazenda are undergoing conservation work and will later be digitized for public availability. They are part of a larger set of documents whose restoration and and digitization were sponsored and funded by the VINCULUM project. The Crónica will be presented and studied, along with the remaining manuscripts, in a seminar to be held at the Faculty of Social and Human Sciences of the Universidade Nova de Lisboa, on April 28, 2023, organized by the project, and of whose results we shall inform the blog!

[i] Entailing Perpetuity: Family, Power, Identity. The Social Agency of a Corporate Body (Southern Europe, 14th-17th Centuries) – ERC Consolidator grant 819734.
[ii] Inventários de arquivos de família, sécs. XV-XIX: de gestão e prova a memórias perdidas. Repensando o arquivo pré-moderno. Project EXPL/EPH-HIS/0178/2013.
[iii] Arquivos de familia, Arquivos de comunidade(s). Arquivística, História, Herança cultural.
[iv] Fábio DUARTE, Herdar, Legar e Registar: o arquivo e o Tombo do Cartório da Casa de Vila Nova de Portimão. Degree: MA in History – specialization in Modern History and History of the Discoveries. FCSH-UNL, 2022.
[v]  Studied in Maria de Lurdes ROSA, Penser et organiser les archives de famille, entre histoire et archivistique. In: Les archives familiales dans l’Occident médiéval et moderne: Trésor, arsenal, mémorial [en ligne]. Madrid: Casa de Velázquez, 2021 (généré le 16 septembre 2021).
[vi] The second count’s will, perhaps the most exemplary, is published (ROSA, Penser. p. 72); but the Castelo Branco’s unpublished handwritten wills are of identical style.
[vii] In this aspect we cannot therefore agree with the authorship attribution made by Rafael MOREIRA, O casamento da Infanta D. Beatriz em Sabóia (1521) e a mais antiga alusão a Gil Vicente. In: Anais de História de Além-Mar 21 (2020): 349-82 (p. 352-53).
[viii] Francisco Arthur da Silva (ed.), Catalogo da livraria do distincto bibliografico e bibliophilo José Maria Nepomuceno (…). Lisboa: Empreza Editora de Francisco Arthur da Silva, 1897 (lote 2187).
[ix] Margarida LEME– O Arquivo Costa no Arquivo Óbidos Palma Sabugal. In ROSA, Maria de Lurdes (org.) – Arquivos de família, séc. XIII-XX: que presente, que futuro?.Lisboa: IEM; CHAM; Caminhos Romanos, 2012, pp. 279-90. The archive was dispersed between 1995 and 2004 and most of it was acquired in 1995, by the ANTT, where it is currently located under the name of Casa de Santa Iria.
[x] Francisco Arthur da Silva (ed.), Catalogo de uma boa colleção de livros raros, curiosos e manuscriptos de varias procedencias. Lisboa: Empreza Editora de Francisco Arthur da Silva, 1898 (lote 1124).
[xi] MOREIRA, O casamento. The discovery of the full manuscript of the Crónica will allow us to correct some of the assumptions in this article, which arose from the version available to the author.
[xii] It was also sold at the Silva 1898 auction (catalog cited above, lot 1099, p. 107), in which it is identified as a “modern handwritten copy” of the Castelo-Branco genealogical manuscript.


PhiloBiblon 2022, n. 5 (diciembre): La traducción española de De civitate Dei, un nuevo manuscrito

Nos es muy grato proporcionar nuestro consabido aguinaldo de Navidad para el deleite de nuestros colegas y amigos.

Parece mentira que a estas alturas aún queden manuscritos de primerísima importancia para la literatura medieval española cuya existencia se nos ha escapado no sólo al equipo de PhiloBiblon, sino a toda la comunidad de investigadores. Pero tal es el caso que vamos a tratar en este post: dar a conocer un nuevo manuscrito (en realidad, tres, como se verá más adelante) de la traducción de De civitate Dei de San Agustín, atribuida a Gómez García del Castillo (BETA texid 1531).

Hasta el momento actual se conocían dos manuscritos de esta traducción, ambos conservados en la Biblioteca de El Escorial, esc. A-I-8 (BETA manid 1824) y esc. A-I-9 (BETA manid 1823). El primero contiene los libros 8-17; el segundo, los libros 18-22. Faltaba, por lo tanto el comienzo de la obra. El colofón del códice esc.  A-I-9 explica las circunstancias de su confección:

Este libro que se llama la segunda parte de la çibdat de | dios. El qual fizo e ordeno el muy glorioso dotor  señor | sant agustin. escriujo para la muy esclaresçida señora Reyna | doña maria fija del muy esclaresçido Rey don ferrãdo de Aragon que aya santa gloria E muger que agora es del | muy exçelente e muy virtuoso señor don iohan Rey de | Castilla e de leon. gomes garçiª del Castillo criado de la | dicha señora Reyna por su Ruego e mandado. E aca|boso [!] de escreujr enla villa de valladolid A xxvij dias del mes de abril del año de j Vcccc.º xxx iiijº Años.

Real Biblioteca del Monasterio de el Escorial, Ms. a-i-9 f. 222rb. (Cortesía de la RBME)

Es evidente que Gómez García del Castillo es el copista, pero queda la duda de sí también fue el traductor del texto, basado en una versión catalana que, a su vez, depende del texto y comentario en francés a cargo del gran humanista galo Raoul de Presles (1316-1382), autor, entre otras destacadas obras, de la traducción al francés de la Biblia.

Debemos a uno de los miembros de BETA, Óscar Perea Rodríguez, la noticia de la existencia de tres nuevas fuentes de la citada traducción de García del Castillo hasta ahora desconocidas para la amplia mayoría de la comunidad académica. Se trata de los manuscritos X.430.2 (lib. 1-9; BETA manid 6371), X.430.1 (lib. 10-17; (BETA manid 6370) y X.430.3 (lib. 18-22; (BETA manid 6369) conservados en el Metropolitan Museum de Nueva York, los cuales, en conjunto, contienen todo el texto de los 22 libros de La ciudad de Dios. Por lo tanto, el primer gran avance que nos proporciona este descubrimiento es que por primera vez podremos examinar el contenido de los libros 1-7, ausente en los dos códices escurialenses conocidos hasta ahora.

Como indica el escudo de armas que figura al inicio del ms. X.430.1 (un castillo con tres torres de oro y azur sobre fondo de gules, coronado con un capelo episcopal), los tres manuscritos se copiaron para Alfonso Carrillo de Acuña, arzobispo de Toledo (1446-1482). 

Ms. X.430.1, f. 1r. Miniatura con el escudo de armas de Alfonso Carrillo de Albornoz (cortesía Metropolitan Museum)
 
Como los lectores habrán podido comprobar ya, hay un segundo ingrediente que dota a estos tres manuscritos de un atractivo inmenso para la investigación cultural: son de una extraordinaria belleza artística, con orlas, miniaturas e iniciales de primerísima categoría en lo que a estética se refiere.
 
X.430.3 lib. XIX
Ms. X.430.3, Comienzo del libro XX (cortesía Metropolitan Museum)
 
De hecho, son los expertos de Historia del Arte los que ya conocían estos manuscritos al menos desde 1990, cuando Lynette Bosch los describió y analizó exclusivamente desde supuestos artísticos, intentando probar que el miniaturista de todo el códice X.430.1 y de bastantes partes de .430.2  fue un tal Canus de Aranda, activo en Toledo durante los años del mandato archiepiscopal de Carrillo. A Canus de Aranda, o Cano de Aranda, con su nombre castellanizado, se le conoce por firmar un misal romano de la Biblioteca de la Catedral de Toledo: “Canus de Aranada bach. fecit hoc opus” (Ms. Res. 4, f. 196r). En ese mismo códice identifica a su mecenas: “Est liber hic domini Alfonsi Carrillo archipresulis toletani quem fecit Canus” (ibid. f. 7r). Hay otro manuscrito, también identificado por Bosch con la firma de Cano de Aranda, un Missale Mixtum Mozarabicum que se alberga hoy en la British Library londinense (MS. Add. 38037).
 
Estos dos, más los tres del Metropolitan Museum neoyorquino, parecen ofrecer una prueba indudable de la existencia de un taller de manuscritos en la catedral de Toledo en la segunda mitad del s. XV, probablemente adscrito al conocido círculo intelectual creado alrededor de la corte del arzobispo Carrillo, de quien, Fernando de Pulgar, en sus Claros varones de Castilla, recordaba que “tenía en su casa letrados e cavalleros e ommes de fación; rescebía muy bien e honrava mucho a los que a él venían, e tratávalos con buena gracia”. Además de Cano de Aranda, en este taller figurarían otros iluminadores, como el maestro Roundel y Manuel Godino, o escribanos como Juan Martín, todos ellos estudiados por Fernando Villaseñor Sebastián en su obra fundamental sobre los códices iluminados en la Castilla cuatrocentista. 
 
El estilo de estos manuscritos es muy peculiar, pero no se aprecia apenas influencia de los nuevos vientos artísticos procedentes del humanismo florentino o napolitano. Sí hay, sin embargo, una clarísima influencia de algunos modelos italianos clásicos, sobre todo los textos jurídicos al estilo antiguo procedentes de la Universidad de Bolonia.  Estos rasgos se perciben sobre todo en el uso de orlas con viñas que trepan por barras de oro verticales y horizontales, pobladas de putti, pavos reales, loros y flores de acanto, como se puede apreciar en esta selección de imágenes.
En lo que respecta a las iniciales del texto, se puede hallar idéntica influencia artística. Las grandes, de 14 a 15 líneas de altura, ofrecen una variada gama de estilos, pero las más son floreadas, en colores verde, rosado y azul,  con viñas o flores de acanto estilizadas sobre fondo de oro.
 
Esta pequeña presentación de estos nuevos manuscritos, hecha a vuelapluma, tiene una moraleja: el estudio de la Edad Media tiene que ser interdisciplinar. Parafraseando a Séneca en una de sus epístolas a Lucillo (104), no nos atrevemos a muchas cosas porque son díficiles, pero si las consideramos difíciles es a veces por el mero hecho de no atrevernos a hacerlas. Si se cultiva sólo y en exclusiva la literatura, o la linguística, o la historia, o las artes visuales, corremos el riesgo de empobrecer el mucho más amplio campo del medievalismo, puesto que tesoros como estos pueden pasar completamente desapercibidos para los especializados en un solo aspecto del conocimiento, como hasta ahora lo eran.
 
Charles B. Faulhaber
Óscar Perea Rodríguez
 
University of California, Berkeley
Bibliografía

Bosch, Lynette M.F. (1990), “Una atribución nueva a Cano de Aranda, miniaturista toledano”, Archivo Español de Arte, 63 (n. 249), págs. 69-79.
Villaseñor Sebastián, Fernando (2009), El libro iluminado en Castilla durante la segunda mitad del siglo XV, Segovia, Fundación Instituto Castellano y Leonés de la Lengua-Cajasegovia.

PhiloBiblon 2022 n. 4 (octubre): Ayuda de la Fundación Larramendi a PhiloBiblon

Nos es muy grato anunciar que la Fundación Ignacio Larramendi acaba de conceder una segunda ayuda al proyecto actual de PhiloBiblon: “From Siloed Databases to Linked Open Data via Wikibase.”

El patrocinio de la Fundación Ignacio Larramendi y de sus antecesores a PhiloBiblon remonta ya a más de treinta años. Conocí a Don Ignacio Hernando de Larramendi (1921-2001) en 1991 cuando visitó Berkeley para anunciar el estreno de las Colecciones MAPFRE 1492, reproducciones de 245 títulos fundamentales para la historia de España y la América Latina. Estos títulos, amén de otros muchos hasta un total de 1800, fueron reproducidos en disco CD-ROM por la Fundación Histórica Tavera entre 1997 y 2005. Uno de los mayores aciertos de Don Ignacio era su acogida de las nuevas tecnologías de la información, poco corriente entre las personas de su generación.

Se celebró el centenario de don Ignacio el año pasado y, siguiendo la metodología de la Biblioteca Virtual de Polígrafos, que es caso de estudio del W3C Library Linked Data y de Europeana, se implementaron sendos micrositios dedicados a la digitalización de las colecciones MAPFRE 1492 y los Clásicos Tavera, recatalogados en RDA, MARC 21 y también con la utilización de la ontología de Europeana Data Model en RDF.

El otro acontecimiento, menos trascendental por cierto pero de una innegable utilidad es que el sitio espejo de PhiloBiblon en la Universitat Pompeu Fabra ya está de alta otra vez después de haber estado de baja desde octubre de 2018. Nuestro agradecimiento más profundo a Marc Esteve y Joan Trenchs de la UPF y a Josep Formentí, ingeniero de informática de Terrassa que trabaja también con nosotros en el proyecto actual.

Por otra parte, acabamos de cargar nuevas versiones de BETA, BITAGAP y BITECA. Pocas novedades pero mucho trabajo en la limpieza de los registros para prepararlos para su eventual mapeo de la aplicación de Windows de PhiloBiblon a FactGrid:PhiloBiblon. De entre estas pequeñas novedades, sólo cabe destacar la incorporación a PhiloBiblon del documento inédito sobre Leonor López de Córdoba (BETA bioid 3168), descubierto por Óscar Perea Rodríguez en la Biblioteca del Congreso de Washington.

Washington, Library Congress. Family Mercy-Argenteau: 1, OV-4, doc. 4
Washington, Library of Congress.Family Mercy-Argenteau: 1, OV-4, doc. 4

Se trata de una carta de donación (BETA manid 6368) a través de la cual la conocida autora de las primeras Memorias (BETA texid 3650) autobiográficas escritas en castellano establece su vinculación con el monasterio cordobés de San Pablo, donde más tarde se edificaría el panteón familiar.

Charles B. Faulhaber
University of California, Berkeley


PhiloBiblon 2022 n. 3 (julio) La recuperación del códice del Fuero de Brihuega (BETA manid 2899)

Siempre es un placer tener constancia de que se ha recuperado un patrimonio histórico que se consideraba perdido. Por ello, para todos quienes nos dedicamos de cualquier manera al estudio de la cultura medieval, la noticia más destacada del verano de 2022 ha sido, sin lugar a dudas, la aparición de un códice manuscrito del siglo XIII: el Fuero de Brihuega. En este vídeo se pueden ver imágenes del bello ejemplar cuyo paradero se perdió poco antes del fin de la guerra civil española, en 1938, y que casi 85 años más tarde ha sido devuelto al lugar al que pertenece: el archivo municipal de la localidad alcarreña.

Según noticias de agencias, la desaparición del volumen medieval ocurrió en 1937, cuando, en el marco de la batalla de Guadalajara, tuvo lugar la lucha que el famoso escritor norteamericano (Premio Nobel de Literatura) y corresponsal de guerra, Ernest Hemingway, bautizó como “la batalla de Brihuega“. Se da la curiosa circunstancia de que este episodio de la guerra civil española significó también una especie de guerra civil entre italianos, en tanto que en los campos alcarreños cercanos al palacio de Ibarra se enfrentaron, por una parte, los soldados italianos del batallón Littorio (enviados por Mussolini para reforzar al bando de militares sublevados bajo mando del general Franco), contra los soldados del batallón Garibaldi, voluntarios italianos que ayudaron a las tropas del ejército republicano allí destinadas.

Precisamente fue uno de estos soldados españoles el que, ante el infierno de fuego y metralla desatado sobre Brihuega, salvó al códice de perecer en las llamas y lo mantuvo oculto en su domicilio. Una vez fallecido, uno de sus hijos se puso en contacto con la casa de subastas barcelonesa  Soler y Llach, que fue la que le indicó la forma de contactar con la Sección de Patrimonio Histórico de la Unidad Central Operativa (UCO) de la Guardia Civil, organismo encargado de lidiar con semejantes asuntos.

alt=""

Aunque toda pérdida de una fuente histórica es dolorosa, al menos en el caso del Fuero de Brihuega quedaba el consuelo de que el texto no era desconocido para los lectores, ya que, por fortuna, cincuenta años antes de su desaparición, el erudito Juan-Catalina García López había publicado un estudio detallado del fuero y la edición del texto completo, ya que él había podido consultar el manuscrito. Así, desde 1937, la monografía de García López fue la única herramienta para entender la importancia de este fuero dentro del medievalismo jurídico hispánico, de forma que no solo se ha editado recientemente en facsímil, sino que también está disponible para su consulta en la red a través de la Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes.

alt=""

El fuero de Brihuega es uno de los fueros romances medianos, como lo describió Bermejo Cabrero, y cuyo contenido se asemeja bastante a otros concedidos a otras villas de Castilla La Nueva, como Molina de Aragón (BETA texid 2442), Madrid (BETA texid 2440) o la propia Guadalajara (BETA texid 1182). Está basado en una recopilación de leyes anterior, llamada fuero breve, escrito en latín, que asimismo fue concedido a la ciudad por el arzobispo de Toledo, Rodrigo Jiménez de Rada (BETA bioid 1115), El famoso clérigo siempre tuvo un especial interés en la villa briocense debido al bien conocido hecho de que los tentáculos fiscales y señoriales de la gran mesa arzobispal toledana alcanzaban asimismo a Brihuega, de ahí la concesión del fuero en 1242, aunque el manuscrito esté probablemente redactado unos diez años antes. La presencia de tan destacada autoridad eclesiástica deja su impronta en el códice ya desde el primero de sus 74 folios, que también nos deja ver que la materia escriptoria es un pergamino de bastante calidad.

Folio 1r del Fuero de Brihuega. Foto: Subelegación del Gobierno / Javier Pozo (para "La Tribuna de Guadalajara")
Folio 1r del Fuero de Brihuega. Foto: Subdelegación del Gobierno / Javier Pozo (para “La Tribuna de Guadalajara”)

Las imágenes de televisión y las fotografías que durante estas semanas han estado circulando por la prensa nos dan una buena medida del gran calibre del manuscrito, del que hay que celebrar, sobre todo, que se encuentre en un magnífico estado de conservación. Destaca su encuadernación gótica con dos gruesas tablas de madera de nogal y cuatro nervios de badana, o su letra gótica libraria de inspiración francesa, así como el uso de dos tintas, negra para el cuerpo del texto, y roja para títulos y subtítulos. De igual forma, algunos elementos decorativos a base de adornos entrelazados se perciben de forma efímera, como la orla de tres colores que se adivina en algunos folios iniciales.

alt=""
Detalles decorativos en el códice

En nuestra base de datos, el manuscrito recuperado ya cuenta con su propio identificador, no solo el texto del Fuero de Brihuega (BETA texid 2439), sino el códice en sí (BETA manid 2899). A medida que se vayan sabiendo más características técnicas de este importante descubrimiento, iremos completando la información para ponerla a disposición de los colegas para quienes pueda ser de utilidad, en espera de tener la oportunidad de que algún miembro del proyecto pueda examinarlo in situ cuando sea posible. De momento, congratulémonos de su reaparición estelar durante este caluroso verano de 2022.

Óscar Perea Rodríguez
University of San Francisco

 

Obras citadas

García López, Juan Catalina. El fuero de Brihuega. Madrid: Tipografía de Manuel G. Hernández, 1887 (ed. facsímil en Valladolid: Maxtor, 2012).

Bermejo Cabrero, José Luis. “En torno al fuero de Brihuega.” Wad-al-Hayara. Revista de estudios de Guadalajara 9 (1982): 137-148.

 


PhiloBiblon 2022 n. 2 (mayo). Acuerdo con la Revista de Literatura Medieval

Nos es muy grato anunciar esta segunda entrega de PhiloBiblon para 2022, sobre todo porque, a la vez, podemos anunciar nuestro acuerdo con la Revista de Literatura Medieval, publicada por el Instituto Universitario de Investigación en Estudios Medievales y del Siglo de Oro de la Universidad de Alcalá.

Gracias a la iniciativa de María Morrás y a la buena acogida de Carlos Alvar, José Manuel Lucía Megías y Elisa Borsari, la RLM abre, desde ya, una nueva sección para recibir noticias y artículos sobre manuscritos e impresos antiguos de las literaturas castellana, catalana, gallego-portuguesa y portuguesa de la Edad Media. Se trata sobre todo de ofrecer un espacio para descripciones codicológicas y bibliográficas que van más allá de las abreviadas que se suelen encontrar en las ediciones críticas o en los estudios sobre tradición textual. Estas noticias pueden ofrecer tanto una corrección específica sobre un detalle codicológico —el tipo de letra o encuadernación, la descripción de iniciales habitadas—, o bien una descripción exhaustiva, como la efectuada por nuestra llorada Gemma Avenoza sobre el manuscrito aljamiado de la Biblioteca Municipal de Porto Fundo Azevedo M-FA-14 (BETA bibid 8448).

Para ello, se preconiza la utilización de los formularios de PhiloBiblon (que se pueden consultar y descargar en nuestra página Colaborar), especialmente para tomarlos como guía en la preparación de un estudio para la nueva sección de la RLM. Fueron diseñados para nuestros colaboradores por Gemma Avenoza para captar hasta el detalle más minucioso de un manuscrito o impreso antiguo, sobre el programa codicológico, la estructura del manuscrito, su procedencia, las filigranas, elementos gráficos, manos que han intervenido en él, pautado, reclamos y demás elementos susceptibles de análisis. Aunque sería lo ideal, entendemos que los artículos enviados por los colaboradores tal vez no cubran todos los campos del formulario, de ahí que se enfatice su uso como guía.

Es precisamente el tipo de información como el que se publicará en la RLM el que hemos ido incorporando en PhiloBiblon desde hace décadas. Siempre hemos sido honrados a la hora de reconocer a todas aquellas personas que han proporcionado tal información, si bien, como acertadamente han notado algunos colegas, este reconocimiento sirve de muy poco a la hora de sumar méritos para la acreditación y /o la promoción en el escalafón o en un sexenio de investigación. Por este motivo, a partir de ahora esa misma información será publicada en una nota o artículo en la RLM, publicación cuyo método está basado en la revisión por pares ciegos y que ha recibido el Sello de Calidad a la Excelencia de las Revistas Científicas Españolas por la Fundación Española para la Ciencia y la Tecnologia (FECYT). Para los jóvenes investigadores, sobre todo, podría servir de estímulo el saber que van a recibir el crédito debido, mientras que para PhiloBiblon será la mejor de las maneras de mantener la calidad de la información que proporcionamos a nuestros usuarios.

Convocatoria nueva sección “Notas sobre manuscritos e impresos de obras medievales hispánicas”

La Revista de Literatura Medieval, en colaboración con PhiloBiblon, abre una nueva sección con el fin de publicar noticias sobre manuscritos e impresos de las literaturas ibéricas medievales. Animamos a todos los investigadores a dar noticia de hallazgos, corregir la información contenida en Philobiblon y completar descripciones de los códices y volúmenes. Los autores encontrarán información sobre el envío de originales aquí.
Coordinará la sección María Morrás (maria.morras@upf.edu) a quien podéis escribir para más información.

 

Charles B. Faulhaber
The Bancroft Library
University of California, Berkeley


Recursos Impressos e Digitais / Recursos Impresos y Digitales / Print and Digital Resources

É um prazer anunciar a primeira entrega de PhiloBiblon para aqueste ano de graça de 2022, terceiro da época de COVID.

Bibliotecas e arquivos tradicionais e digitais; revistas impressas e online; bases de dados e projetos bibliográficos; associações profissionais e grupos especializados de investigação … ligações para tudo na página de RECURSOS de PhiloBiblon. Esperamos que dedique uns minutos para explorar a página e descobrir novos sites. Por favor, salve nos seus “favoritos” o URL http://bancroft.berkeley.edu/philobiblon/resources_po.html.

Dica: Com as muitas ligações que agora se incluem, é melhor usar a função “Find” do seu browser para localizar rapidamente o recurso desejado. Pesquise por “hagiog” para encontrar bases de dados, bibliografias, grupos, e revistas especializadas na hagiografia. “Imag” e “icon” identificam recursos especializados em imagens/ícones. Pesquise por “sigil” para encontrar sites que se centram na sigilografia. O usuário com interesse na literatura artúrica ou de cavalaria deve pesquisar por “cav”, “cab”, “chiv”, e “art”. Para identificar rapidamente as revistas do CSIC, pesquise por “CSIC”, e os projetos do IEM por “IEM”.

Envie-nos informação sobre ligações que não funcionam e sugestões para outros sites/ligações que devemos incluir em RECURSOS para: schafferm@usfca.edu


Es un placer anunciar la primera entrega de PhiloBiblon para este año de gracía de 2022, tercero de la época de COVID.

Bibliotecas y archivos tradicionales y digitales; revistas impresas y electrónicas; bases de datos y proyectos bibliográficos; asociaciones profesionales y grupos especializados de investigación … enlaces para todo esto en la página de RECURSOS de PhiloBIblon. Esperamos que dedique unos minutos para explorar la página y descubrir nuevos sitios web. Por favor, guarde o URL http://bancroft.berkeley.edu/philobiblon/resources_es.html.

Consejo: Con tantos enlaces a otros sitios, resulta más eficaz usar la función de búsqueda de su navegador. Busque “hagiog” para encontrar bases de datos, bibliografías, grupos y revistas especializadas en la hagiografía. “Imag” e “icon” identifican los recursos especializados en imágenes/íconos. Busque “sigil” para encontrar los sitios web centrados na sigilografía. Los usuarios interesados en literatura artúrica o caballeresca deben buscar “cav”, “cab”, “chiv”, e “art. Para identificar rápidamente las revistas del CSIC, busque “CSIC”, y los proyectos del IEM, “IEM”.

Le rogamos que envíe información sobre enlaces rotos y también sugerencias para nuevos sitios a: schafferm@usfca.edu.


It is a pleasure to announce the first update to PhiloBiblon for this year of grace 2022, third of the COVID epoch.

Traditional and digital libraries and archives; print and online journals; data bases and bibliographic projects; professional associations and specialized research groups … links to all of this on PhiloBiblon’s RESOURCE page. We hope you will take a few minutes to explore the page and discover new websites. Please bookmark the URL http://bancroft.berkeley.edu/philobiblon/resources_en.html.

Tip: With so many links on the page, the “Find” function of your browser helps you quickly locate the resources you’re seeking. Search “hagiog” in order to find databases, bibliographies, groups, and journals specializing in hagiography. “Imag” and “icon” identify those resources specializing in images/icons. Search “sigil” to find sites focussing on sigillography. Users interested in Arthurian or chivalresque literature can search “cav”, “cab”, “chiv”, e “art”. CSIC journals can be quickly identified by searching “CSIC”, and IEM-sponsored projects by searching “IEM”.

Please send information about broken links and any websites you would like us to include in RESOURCES to: schafferm@usfca.edu

Martha E. Schaeffer
University of San Francisco


PhiloBiblon 2021 n. 7 (December):

Nos es muy grato anunciar la entrega de PhiloBiblon 2021 n. 7, la última entrega de este año de (des)gracia de 2021.

En los últimos meses, nuestros esfuerzos han sido dedicados a la corrección sistemática de errores y erratas de todo tipo en los registros de BETA, BITAGAP y BITECA.

Este proceso forma parte ineludible de la preparación  del corpus total de PhiloBiblon para el proyecto actual patrocinado por la NEH: “PhiloBiblon: From Siloed Databases to Linked Open Data via Wikibase: Proof of Concept.”

Los equipos de PhiloBiblon desean a todos nuestros colegas un año nuevo feliz y sano.

Mariña Arbor Aldea
Arthur L-F. Askins
Vicenç Beltran Pepió
Álvaro Bustos Táuler
Antonio Cortijo Ocaña
Charles B. Faulhaber
Ángel Gómez Moreno
José Luis Gonzalo Sánchez-Molero
Filipe Alves Moreira
María Morrás
Óscar Perea Rodríguez
Ricardo Pichel Gotérrez
Pedro Pinto
Maria de Lurdes Rosa
Nicasio Salvador Miguel
Martha E. Schaffer
Harvey L. Sharrer
Cristina Sobral
Lourdes Soriano Robles

 

 


O panegirico do infante D. Pedro, um texto fantasma*

Diversos estudos sobre o século XV português referem-se a um texto conhecido pela designação, convencional, de Panegírico do infante D. Pedro [BITAGAP texid 16635]. Trata-se de um texto narrativo que inclui também a transcrição de cartas e outros documentos, maioritariamente consagrado à regência do infante D. Pedro, «o das sete partidas» [BITAGAP bioid 1067], e aos primeiros anos da governação plena do seu sobrinho, o rei Afonso V [BITAGAP bioid 1086]. Embora nunca tenha sido objeto de especial atenção, é normalmente considerado como um texto quatrocentista e, por isso, uma fonte potencialmente importante para a história política e cultural, lato sensu, da época. Um estudo da tradição textual deste Panegírico revela, porém, uma realidade diferente. Estamos, na verdade, perante um texto dos finais do século XVIII ou inícios do XIX, construído, isso sim, a partir de materiais do século XV. A análise do processo de construção e canonização desta peça constitui um excelente exemplo da necessidade permanente de questionar, problematizar e historicizar a transmissão textual e a tradição editorial de qualquer texto antigo. Podemos acompanhar as diferentes fases desse processo, e para isso nem precisamos de sair das bibliotecas e arquivos de uma única cidade: Évora.

O Panegírico do infante D. Pedro foi publicado por Luís da Silveira em 1944, no num. 79 da revista Ocidente [BITAGAP bibid 9315]. Como não raro acontecia à época (e, infelizmente, continua por vezes a suceder), Silveira deu informações escassas sobre o texto que estava a editar e respetivas caraterísticas materiais. Apontou a forma como chegou ao conhecimento deste texto, que foi através de uma nota de um artigo de Tejada Spínola, «História das ideias políticas em Portugal», e forneceu a cota do manuscrito em que se encontra, o códice CXXVIII 2/13, Olim CXXVIII/ 1-3, da Biblioteca Pública de Évora (BPE) [BITAGAP manid 2858]. Sobre as caraterísticas desta cópia, diz apenas que está encadernada «com outras peças, algumas das quais são igualmente panegíricos de figuras da história portuguesa» e que «não se trata de documento escrito em letra contemporânea de D. Pedro, mas não é de excluir a hipótese que estejamos em frente de cópia recente de documento antigo, como o fazem supor, entre outros indícios, certas características formais» (p. 205, negritos meus). A esta breve descrição, segue-se a transcrição do Panegírico, sobre cujos critérios nada é dito, mas que se percebe ser bastante conservadora, do tipo paleográfico (sem desenvolvimento de abreviaturas, com manutenção de todas as consoantes dobradas, etc.). Foi a esta edição que, direta ou indiretamente, recorreram todos quantos, posteriormente, se referiram a este Panegírico, sem que alguma vez se tenha procurado questionar ou aprofundar as escassas informações aí contidas. Que é, na realidade, o Panegírico do infante D. Pedro?

Atentemos no códice CXXVIII/ 2-13 da BPE. Trata-se, na verdade, de um conjunto de volumes avulsos a que foi atribuída essa cota comum. Um desses volumes, que tem o número de série CXXVIII/2-13e, é constituído por quatro manuscritos encadernados conjuntamente, mas previamente autónomos. Forneço em seguida uma descrição resumida do conteúdo destes quatro manuscritos, atribuindo-lhes uma numeração convencional:

CXXVIII/2-13e (1). Miscelânico. Escrito por uma mão de finais do século XVIII ou inícios do XIX.

Título: «Elogios Historicos e cronologicos dos reys de Portugal; com as leys, decretos, cartas, provisões, e alvaraz, q escreverão a respublica eccleziastica, e secular da cidade de evora: transcriptos e recopilados, tanto de huma cronica antiga manuscripta q trata dos ditos reys athe d. affonço o quarto; e acrescentada athe d. affonço 5º quanto dos mais monum.tos q se encontrão nos cartórios da camara; e catedral da dita cidade» (fol. 1).

Conteúdos:

  1. Excerto da versão condestabriana da Crónica Geral de Espanha de 1344, BITAGAP texid 15007, com o reinado de D. Afonso Henriques [fólios 1r-6r];
  2. Lei sobre moedas de D. Fernando I, de 1378, BITAGAP texid 8286 [fólios 6v-8r];
  3. Panegírico do Infante D. Pedro, BITAGAP texid 16635, que contém traslados de várias cartas e documentos do infante D. Pedro, de Afonso V de Portugal, de Juan II de Castela e de outras figuras, BITAGAP texids 16663, 15088, 16664, 16665, 15087 [fólios 8v-18r];
  4. Documentos e leis de D. Afonso V, D. João II, D. Manuel e D. Sebastião, a maior parte dos quais relacionados com Évora (p. ex., a descrição da batalha de Toro enviada ao concelho de Évora, BITAGAP texid 9462, uma carta de D. Manuel ao mesmo concelho, sobre a armada de Tristão da Cunha, e um alvará de D. Sebastião sobre uma mina de ouro descoberta no termo da cidade) [fólios 18v-29v].

CXXVIII/2-13e (2) Apontamentos sobre numismática, sem título. Letra de meados ou finais do século XVIII.

CXXVIII/2-13e (3)

Título: «As táboas, e mármores da primeira lusitania com as diferentes archias, e povos athé o império dos grêgos. Dedicadas ao excellentíssimo, e reverendíssimo senhor d. f. Manoel do cenáculo I. Bispo de Beja. Por Caetano Jozeph Lourênço do Valle Correa e Freitas. Jrmão de Joze Lourenço do Valle. Livro Primeiro». (fol. 1)

Letra de meados ou finais do século XVIII.

CXXVIII/2-13e (4)

Título: «As táboas, e mármores da primeira lusitania com as diferentes archias, e povos athé o império dos grêgos. Dedicadas ao excellentíssimo, e reverendíssimo senhor d. f. Manoel do cenáculo I. Bispo de Beja. Por Caetano Jozeph Lourênço do Valle Correa e Freitas. Jrmão de Joze Lourenço do Valle. Livro Segundo». (fol. 2)

Letra de meados ou finais do século XVIII.

Os restantes volumes que formam o conjunto CXXVIII 2/13 são também de meados ou finais do século XVIII, e têm temática arqueológica. Quase todos são, com certeza e por indicação expressa, autógrafos do já referido Fr. Lourenço do Vale, figura importante no nascimento da erudição epigráfica portuguesa, em contexto iluminista (cf. José da Encarnação e Ricardo Gaidão, «As informações epigráficas de Frei Lourenço do Vale», Homenagem a Justino Mendes de Almeida, Lisboa, 2015) e alguns são dedicados a Fr. Manuel do Cenáculo, seu contemporâneo e fundador, como é sabido, da Biblioteca pública eborense. Poderia pensar-se, por isso, que o manuscrito CXXVIII/2-13e (1) tivesse sido também copiado pelo mesmo Fr. Lourenço ou por seu irmão. A letra é, todavia, diferente e ligeiramente posterior. Quem foi, então, o copista e como foi constituído este manuscrito CXXVIII/2-13e (1)?

A primeira destas perguntas foi já respondida por Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara e Joaquim Antonio de Sousa Teles de Matos, autores do Catalogo dos Manuscriptos da Biblioteca Publica Eborense em 4 volumes [BITAGAP bibid 1414], cuja organização, como se sabe, é temática, o que dificulta a correta apreensão das caraterísticas de cada um dos manuscritos aí descritos. O volume II, dedicado à Literatura, descreve, a partir da página 36, os panegíricos constantes dos códices da biblioteca. O primeiro é precisamente o do infante D. Pedro, assim descrito:

Este Padre José Lopes de Mira [BITAGAP bioid 3258], cuja vida decorreu entre meados do século XVIII e as primeiras décadas do XIX, é figura bem conhecida, sobretudo pelo seu trabalho de cópia e compilação de numerosos documentos antigos, grande parte dos quais relacionados com Évora, sua terra natal e de cuja Sé foi Beneficiado. Muitas destas cópias estão, atualmente, na Biblioteca Pública de Évora, mas também noutras instituições, nomeadamente na Biblioteca Pública Municipal do Porto [sobre a forma como estas últimas vieram parar ao Porto, veja-se: Primeiro roteiro da costa da Índia […] por D. João de Castro, Publicado por Diogo Köpke, Porto, Typographia Commercial Portuense, 1843, p. XXVI]. É especialmente conhecido pelo chamado Livro do Padre José Lopes de Mira, vasta compilação de documentação então existente em diversos arquivos eborenses e maioritariamente relativos a esta cidade e suas instituições, eclesiásticas e civis [Livro 146 do Arquivo Distrital de Évora (ADE), BITAGAP manid 2549]. Este Livro tem, de há muito, fornecido matéria para numerosos estudos e sido citado várias vezes [veja-se, p. ex., Gabriel Pereira, Estudos Eborenses, Vol. II, p. 341]. Apesar disso, não tem sido referida uma sua interessante caraterística. O Padre Lopes de Mira não se limitou, neste volume, a copiar documentos. Dividiu esses documentos por reinados e fez anteceder cada um desses reinados por resumos históricos, geralmente breves. O título geral do volume dá conta disso mesmo: «Elogios Historicos e cronológicos dos Reys de Portugal com as leys decretos provisões alvaras e cartas q~ escreverão ás Republicas Eclesiastica e Secular da cidade de Evora: tranzcrito e recopilado tudo, tanto de huma cronica antiga manuscrita q~ trata dos ditos Reys athe D. Affonço 5º, e existe no Cartorio da Camara; como dos mais papeis q~ se concervão no mesmo cartório, e no da Cathedral da dita cidade» [Livro 146 do Arquivo Distrital de Évora, fl. 1]. A análise do conteúdo do Livro do Padre Lopes de Mira revela que a «cronica antiga manuscrita» aqui referida é certamente uma cópia da versão condestabriana da Crónica de 1344 [BITAGAP texid 15007]. Os resumos históricos que antecedem cada um dos reinados e respetivas transcrições de documentos são, com efeito, baseados nas histórias de cada um dos reis de Portugal presentes nesta versão. Em alguns casos, o Padre Lopes de Mira limitou-se a copiar o texto da crónica medieval; noutros, acrescentou informações ou intercalou documentos, geralmente relacionados com Évora, no mesmo texto oriundo da crónica. Sucede isso, por exemplo, com o resumo histórico do reinado de D. Afonso IV, onde, entre outras informações, o Padre Mira acrescentou uma transcrição do conhecido epitáfio comemorativo da batalha do Salado que existe na Sé de Evora [Livro do Padre José Lopes de Mira, fl. 30r; Cf. o texto do epitáfio medieval em Mário Barroca, Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422), Lisboa, Fundação para a Ciêencia e a Tecnologia e Fundação Calouste Gulbenkian, Vol. II, Tomo 2, pp. 1605-1614 (num. 592)]. Outro caso em que isso acontece é o resumo do reinado de D. Afonso V. Neste último caso, o Padre Lopes de Mira intercalou numerosas cartas no texto, já relativamente extenso, oriundo daquela versão da Crónica de 1344.  Ora, a partir de certa altura (fol. 70r), este resumo histórico do reinado de D. Afonso V coincide exatamente com o chamado Panegírico do infante D. Pedro, quer na parte copiada da Crónica de 1344, quer nos documentos intercalados, como se pode ver confrontado o início do Panegírico segundo a edição de Luís da Silveira com o texto respetivo do Livro do Padre José Lopes de Mira

Livro do Padre José Lopes de Mira, Livro 146 do Arquivo Distrital de Évora, fol. 70r

Este facto, juntamente com a identidade do copista de ambos os volumes (o próprio Padre Lopes de Mira) revela que existe uma relação entre o manuscrito CXXVIII/2-13e (1) da BPE, a partir do qual Luís da Silveira editou o Panegírico do infante, e o Livro do Padre José Lopes de Mira. E não se ficam por aqui as coincidências entre estes dois volumes: todo o restante conteúdo do manuscrito de Évora (história do reinado de D. Afonso Henriques e documentos de D. João II, D. Manuel e D. Sebastião) existe também no Livro do Padre José Lopes Mira. Até os títulos gerais de ambos os manuscritos, atrás transcritos, são idênticos. É, portanto, seguro que o manuscrito CXXVIII/2-13e (1) da BPE é uma cópia (parcial) do Livro do Padre José Lopes de Mira, feita pelo mesmo Padre Mira.

Podemos, assim, responder à pergunta inicialmente formulada: que é o Panegírico do infante D. Pedro? Não é, como tem sido acreditado, um texto do século XV, mas sim uma construção de um erudito de finais do século XVIII, o Padre José Lopes de Mira, feita, isso sim, com base em materiais do século XV (uma versão da Crónica Geral de Espanha de 1344 e vários documentos e cartas da mesma época). O texto deste suposto Panegírico cumpriu, inicialmente, a função de introduzir e contextualizar a transcrição de um conjunto de documentos da época de Afonso V, dentro de um conjunto documental mais vasto. Posteriormente autonomizado pelo próprio Padre José Lopes de Mira, possivelmente a pedido de um outro erudito local (Cenáculo?), a sua função inicial perdeu-se. Em meados do século XX, dois estudiosos, Tejada Spínola e Luís da Silveira conheceram-no sob esta forma autónoma e, pelo conteúdo e pela linguagem, julgaram-no um texto quatrocentista. Silveira editou-o e, a partir daí, o estatuto do Panegírico como sendo um texto quatrocentista ficou canonizado.

Podemos, por outro lado, identificar a «cronica antiga manuscrita» do «Cartorio da Camara» [de Évora] a partir da qual o Padre Lopes de Mira construiu o texto que viria a ser conhecido como o Panegírico do infante D. Pedro. Trata-se, certamente, do Cod. CV/2-23 da BPE [BITAGAP manid 1491], que permanece nessa cidade alentejana e é cópia do manuscrito original da versão condestabriana da Crónica de 1344, o ms. «Portugais 9 da Bibliothèque Nationale de France» [BITAGAP manid 1155].

Curiosamente, o Padre José Lopes de Mira não foi o primeiro erudito a utilizar a versão condestabriana da Crónica de 1344 para a construção de relatos históricos. Recentemente, o colega Pedro Pinto, da BITAGAP, localizou, num manuscrito do Palácio da Ajuda, em Lisboa, uma cópia do século XVIII da história dos reis de Portugal dessa mesma versão da Crónica de 1344, igualmente intercalada por diversos documentos e cartas. Está em curso um estudo desse manuscrito da Ajuda, e novas informações aparecerão em futuras atualizações de BITAGAP.

*Esta nota é dedicada ao André Filipe Oliveira da Silva, que, numa época em que me deslocava frequentemente a Évora, me chamou a atenção para os resumos históricos presentes no Livro do Padre José Lopes de Mira.

 

Filipe Alves Moreira
(Instituto de Filosofia/Universidade do Porto
DL57/2016/CP1367/CT002)

 


Un nuevo testimonio castellano del Libro de los mártires de Bernardo de Brihuega

En memoria de Gemma Avenoza

Hace poco más de un año y medio dábamos a conocer en el blog de PhiloBiblon y en el de TextoR de la Universidad de Alcalá el hallazgo del más antiguo testimonio conocido de la obra hagiográfica de Bernardo de Brihuega: dos hojas de un códice perdido, en castellano y de finales del siglo XIII o comienzos del XIV, correspondiente al segundo libro de las Vitae Sanctorum del Briocano, dedicado a la vida y pasión de los apóstoles. Dichos fragmentos se conservan actualmente en el Arquivo Histórico Provincial de Ourense (Carp. 3, nº 4/5, BETA manid 4222, Pichel y Sánchez Ferro 2019) y son objeto de edición y estudio en el marco del proyecto “HERES. Patrimonio textual ibérico y novohispano. Recuperación y memoria” de la Universidad de Alcalá (CAM 2018-T1/HUM-10230). Una primera aproximación a la tradición textual y procedencia de este valioso testimonio se puede leer en el homenaje a Joaquín Rubio Tovar, editado por la UAH bajo el cuidado de M. Serrano Marín, B. Almeida y F. Larraz (Pichel 2021a), y, más recientemente, en el volumen Galicia no tempo de Afonso X, editado por el Consello da Cultura Galega y coordinado por S. Doubleday y J. M. Andrade Cernadas (Pichel 2021b).

Sin embargo, inevitablemente, esto es solo el principio y, con toda seguridad, en los próximos años verán a la luz nuevos testimonios inéditos o aún deconocidos del vasto patrimonio literario alfonsí. Nos queda mucho por rastrear, descubrir e identificar en los centenares de fondos archivísticos dentro y fuera de nuestras fronteras (inter)nacionales. La Hispanic Society Museum & Library de Nueva York es, ciertamente, el ejemplo más representativo del enorme valor histórico, artístico y literario de nuestro patrimonio cultural custodiado en instituciones fuera de España, y —todo sea dicho— infelizmente aún muy poco revindicado y apoyado desde aquí. Ahora bien, dentro aún nos queda mucho por hacer, qué duda cabe, y la (re)catalogación, informatización e interconexión de los registros y contenidos archivísticos —pensemos en el Portal de Archivos Españoles (PARES), Biblioteca Digital Hispánica (BDH) o Europeana, por ejemplo[1] — nos permite acelerar esta línea de investigación centrada en la exhumación de nuestro pasado cultural.

Muchos de los nuevos hallazgos que se van confirmando cuentan una historia similar: fragmentos, a veces muy mal conservados, reaprovechados como cubiertas de encuadernación: Disiecta membra, durante mucho tiempo obviados e infravalorados, solo apreciados por su aroma vetusto como portada de un legajo o atado de papeles, pero que, sin embargo, en ocasiones atesoran verdaderas joyas de nuestro pasado literario e histórico. No siempre conservamos el liber tradens, pero cuando esto ocurre, la información que podemos obtener, aunque sea de manera indirecta, puede ser crucial para contextualizar, al menos, la procedencia inmediata de los fragmentos reutilizados. Es lo que ocurre con el testimonio gallego del Libro de las vidas y pasiones de los apóstoles antes citado, procedente de un libro de apeo de los bienes del monasterio de Santa Clara de Allariz.

En los últimos años, como por todos es bien conocido, la Profª. Gemma Avenoza y su equipo había reunido, tras una incombustible pesquisa archivística, un número nada despreciable de fragmentos latinos y romances de diferentes textos de carácter bíblico, historiográfico y jurídico. Uno de ellos, hoy conservado en el Archivo Histórico Nacional de Madrid (Clero Secular-Regular, L. 4355), llamó particularmente la atención a nuestra compañera, debido, entre otras cuestiones, a las iluminaciones que acompañan el texto a dos columnas escrito en las dos hojas sueltas hoy supervivientes de lo que habría sido un códice hagiográfico de muy buena factura. Durante los primeros meses de 2020 se discutió la naturaleza del texto y, en consecuencia, lo que en un principio parecía una de las redacciones del Pasionario hispánico o un flos sanctorum, finalmente pudo identificarse como un nuevo testimonio de la versión castellana de las Vitae de Bernardo de Brihuega, concretamente de la tercera parte, el Libro de los mártires; un contenido absolutamente desconocido hasta el momento, ya que no se conserva ni en la tradición latina[2] —aunque sí se nombran en el índice conservado del Libro III— (Martín-Iglesias 2020) ni en la portuguesa[3] (Sonsino, Cruz y Sobral 2018), ni tampoco en la compilación castellana tardía —finales del s. XIV o principios del XV— representada por la colección hagiográfica transmitida por el ms. facticio BNE MSS/10252 (BETA manid 2819, manid 4784, manid 4785) (Bautista 2014).

Así pues, el testimonio transmite los últimos cinco capítulos de la pasión de San Félix y parte del primer capítulo de la passio de San Cucufate, ambos martirizados bajo el cruento mandato de Diocleciano. De acuerdo con el estudio preliminar del manuscrito, lo más probable es que los fragmentos del AHN se correspondan con una sección de la segunda parte de las cuatro que conformaban el Libro III de Brihuega, por lo que el material que ha sobrevivido se sitúa en la primera mitad del códice que lo contenía. Desde el punto de vista material, paleográfico y lingüístico, las concomitancias con el fragmento gallego del Libro II son más que evidentes (Pichel 2021a: 60-64), hasta tal punto que parece bastante factible que estemos delante de proyectos codicológicos muy estrechamente relacionados tanto en el tiempo (ca. 1290-1325) como en lo que concierne al ambiente cultural en el que se habrían materializado (Pichel 2021b). La procedencia del Monasterio de San Bartolomé de Lupiana, de acuerdo con el liber tradens del testimonio madrileño, abre interesantes vías de investigación en lo que concierne al posible itinerario cultural del códice desde su elaboración, muy probablemente en medios cortesanos, hasta su llegada al convento jerónimo, tal vez ya a mediados del siglo XV. En lo que concierne a la decoración e iluminación del manuscrito, ambos testimonios (AHN y AHPOu) comparten la misma planificación de los reservados previstos para las iniciales capitulares y las miniaturas, cuyas dimensiones varían de acuerdo con la frontera estructural del texto (inicio de passio o vita; inicio de capítulo). La edición y estudio del fragmento, presentado en el Congreso Internacional «Alfonso X y el poder de la literatura (1221-2021)», se realiza actualmente en el marco de la Red del Libro Medieval Hispánico (RED2018-102330-T).

Clero Secular-Regular, L. 4355, fol. 2v (detalle: a la izquierda, enterramiento del cuerpo de S. Félix; a la derecha, martirio de S. Cucufate) (© Archivo Histórico Nacional, )

 

 

Ricardo Pichel
Universidad de Alcalá

Bibliografía citada

Bautista, Francisco (2014a): “Bernardo de Brihuega y la colección hagiográfica del ms. BNE 10252“, Zeitschrift für romanische Philologie 130, pp. 71-104.

Cepeda, Isabel Vilares (1993): “Os Quarenta mártires de Sebaste. Un testemunho manuscrito do século xv em português”, Theologica 28/2, pp. 507-14.

— (1982-89) (ed.): Vidas e Paixões dos Apóstolos. Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica / Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, 2 vols.

Martín-Iglesias, José Carlos (2020): “Los manuscritos de las Vitae sanctorum de Bernardo de Brihuega conservados en la Biblioteca General Histórica de la Universidad de Salamanca“, Evphrosyne 48, pp. 151-92.

García-Fernández, Miguel (2019): “PARES e Galiciana: o patrimonio documental galego na Rede. Da Idade Media ao século XXI“, Murguía. Revista Galega de Historia 40, pp. 137-43.

Pichel, Ricardo (2021a): “Las Vidas y pasiones de los apóstoles de Bernardo de Brihuega a la luz de un nuevo testimonio castellano“, en Marina Serrano Marín, Belén Almeida y Fernando Larraz (eds.), Babel a través del espejo. Homenaje a Joaquín Rubio Tovar. Alcalá de Henares: Universidad de Alcalá, pp. 55-67.

— (2021b): “«Sabean quantos este liuro virem… » A recepción galega do legado historiográfico e haxiográfico do Rei Sabio na primeira metade do século XIV”, en Simon L. Doubleday y José Miguel Andrade Cernadas (eds.), Galicia no tempo de Afonso X. Santiago de Compostela: Consello da Cultura Galega.

– y Pablo Sánchez Ferro (2019): “O legado haxiográfico de Bernardo de Brihuega en Ourense“, Fronda. Voandeira do Arquivo Histórico Provincial de Ourense 82, pp. 1-2

Sonsino, Ana, Marta Cruz y Cristina Sobral (2018): Edição semidiplomática do Livro dos Mártires, en Corpus de Textos Antigos. Lisboa: Centro de Linguística da Universidade de Lisboa.

 

[1] Véase, por ejemplo, para el caso del patrimonio documental gallego, García-Fernández 2019.

[2] El ms. 2538 (fols. 1-234) de la Biblioteca General Histórica de la Universidad de Salamanca conserva el índice y parte del Libro III de Brihuega (Martín-Iglesias 2020).

[3] Del Livro dos Mártires portugués (BITAGAP texid 1032) solo conocemos la segunda mitad del libro tercero de Bernardo y se conserva en un único post-incunable impreso en 1513 bajo el auspicio del rey Manuel I (Biblioteca da Casa de Bragança, ms. 36 BITAGAP manid 1028), además de un fragmento del siglo XV (Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Fragmentos c. 20, nº 10 BITAGAP manid 1750; cf. Cepeda 1993, 1982-89). Del post-incunable se conservan otros tres ejemplares: en la Biblioteca do Palácio da Ajuda (Lisboa) (BITAGAP copid 1846), en la Houghton Library de la Harvard University (Cambridge) (BITAGAP copid 1103) y en la Oliveira Lima Library de la Catholic University of America (Washington) (BITAGAP copid 1104), más uno de paradero desconocido (BITAGAP copid 1164).


PhiloBiblon 2021 n. 6 (September): Help Us to Correct PhiloBiblon! / !Ayúdanos a corregir PhiloBiblon!

We are now three months into our project to map PhiloBiblon from its current Windows database management system to FactGrid:PhiloBiblon, part of FactGrid: A database for historians. We reported on this project in PhiloBiblon 2021 n. 3 (mayo): PhiloBiblon y el mundo wiki. Propuesta de una colaboración. As we work with our technical staff to determine the best way of moving forward we are also working with our academic staff to eliminate errors from PhiloBiblon’s 415,000 records to ensure that they are mapped correctly to the new system, an immense project.

To that end we are calling on the users of PhiloBiblon to help.

If you are aware of an error in an existing PhiloBiblon record, ranging from a simple typographical error to the date of a manuscript or something as far-reaching as the misattribution of the authorship of a text, please contact us.

For BETA / Bibliografía Española de Textos Antiguos: Charles Faulhaber / Óscar Perea
For BITAGAP / Bibliografia de Textos Antigos Galegos e Portugueses: Arthur Askins / Martha Schaffer / Harvey Sharrer
For BITECA / Bibliografia de Textos Antics Catalans, Valencians i Balears: Lourdes Soriano

Please note that we are specifically not asking for suggestions for the addition of new  records about relevant manuscripts, editions, or texts that are currently not recorded in PhiloBiblon.
We are all too aware of the fact that new materials are constantly appearing, like the two previously unknown Celestina editions of “Sevilla, 1502” that turned up in 2019 (BETA manid 5872, manid 5905).

As we move through the mapping process, it will be some months before we can start adding new records. However, do continue to give us information about relevant materials that are missing from PhiloBiblon so that, when the time comes, we can resume adding new records.

Charles B. Faulhaber
Interim Director
The Bancroft Library

————————————————————————-
!Ayúdanos a corregir PhiloBiblon!

Se cumplen ahora tres meses de nuestro proyecto, que pretende trasladar PhiloBiblon de su actual sistema de base de datos cerrados en entorno Windows hasta un entorno de datos abiertos llamado  FactGrid:PhiloBiblon, parte del sistema general FactGrid: una base de datos para historiadores. El encaje de este proyecto ya fue explicado en la red a través de nuestro Philoblog, en una entrada titulada PhiloBiblon y el mundo wiki. Propuesta de colaboración.
Además de colaborar con el equipo técnico para determinar cuál es la mejor manera de gestionar este proyecto, los miembros del proyecto nos encontramos revisando en la actualidad cada uno de los 415.000 registros de PhiloBiblon para eliminar los errores y asegurar que ninguno de ellos pase al nuevo sistema. Se trata, por lo tanto, de una tarea de enorme importancia, pero que requiere también de un esfuerzo colectivo importante.

Para este fin solicitamos la ayuda de todos nuestros colegas y usuarios/-as. Si eres consciente de cualquier tipo de error en uno de nuestros registros, por favor contacta con nosotros tan pronto como puedas. No importa si este error es una simple errata tipográfica, o la fecha de composición de un manuscrito, o algo más importante como una atribución errónea de autoría. Lo importante es evitar la perpetuación de ese error en la nueva versión de PhiloBiblon.

Así que si quieres informarnos, por favor contacta a los responsables de cada bibliografía:

Por favor, recuerda que, en este momento, no estamos pidiendo tu colaboración para que nos hagas llegar sugerencias sobre registros  nuevos que añadir, o sobre información complementaria de manuscritos, ediciones o textos que no están en nuestra base de datos. Somos bien conscientes de que hay nuevos materiales que últimamente no hacen más que aparecer, como las dos desconocidas hasta ahora ediciones de La Celestina en “Sevilla, 1502”) (BETA manid 5872manid 5905). Hasta que el transporte de datos no se acabe, van a pasar algunos meses antes de que podamos reanudar nuestra labor de crear nuevos registros, así que te rogamos que esperes para enviarnos esta información, si es que dispones de ella.

Insistimos de nuevo, si conoces cualquier error en nuestra base de datos actual, no dejes de comunicarte con nosotros, te estaremos eternamente agradecidos por ello.

Charles B. Faulhaber
Interim Director
The Bancroft Library