Mª de Lurdes Rosa, Margarida Leme, Fábio Duarte e Miguel Ayres de Campos
Instituto de Estudos Medievais
Universidade Nova de Lisboa
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
VINCULUM ERC project
É com gosto e entusiasmo que partilhamos a descoberta de uma crónica nobiliárquica quinhentista, há muito perdida, e de dois inventários de arquivo de família com ela relacionados, e igualmente apenas há poucos anos recuperados – sendo o seu estudo integrado um trabalho inédito em curso.
Descobertas
O manuscrito da crónica nobiliárquica quinhentista, conhecido como Descendência e linhagem dos Castelo-Branco (doravante Crónica), está datado de 1588 e contém um longo texto de 261 fólios, em escrita elegante e cuidada. Em cento e dezasseis capítulos narra a história e a genealogia de um grupo familiar da nobreza portuguesa, os Castelo-Branco, estando dedicada a um dos seus expoentes ilustres na época, Duarte Castelo-Branco, conde do Sabugal, meirinho-mor e vedor da Fazenda. Encontra-se nas mãos de um colecionador privado, Doutor Miguel Ayres de Campos, que a cedeu de forma generosa ao projeto VINCULUM para ser estudada e editada.
Este projeto, financiado pelo European Research Council, tem com o objetivo o estudo do funcionamento das instituições de morgados e capelas (vinculação), em Portugal e seus territórios atlânticos, em perspetiva comparada com outros reinos do sul da Europa[i]. A forma como os grupos sociais que recorriam ao estabelecimento de vínculos para reforço da sua riqueza identitária e simbólica é uma das áreas de estudo de projeto VINCULUM, na qual materiais como as narrativas genealógicas e familiares tem grande relevo. Por acréscimo, o grupo familiar dos Castelo-Branco, que se organiza em diversos núcleos fortes, ricos e influentes na Corte portuguesa desde inícios do século XV, permite um dos mais interessantes estudos de caso do projeto.
Uma característica comum aos vários núcleos, entre os quais o dos Conde do Sabugal, foi a atenção aos arquivos e às práticas de gestão de informação das casas e das propriedades; uma outra, o cultivo das belas-letras e de vários tipos de saberes técnico – científicos. A literacia jurídica e contabilística permitiu-lhe aceder por gerações a cargos cimeiros da corte, ligados ao direito e à gestão do reino e dos bens régios, desde a Casa do Cível à vedoria da fazenda, passando pelo meirinhato-mor. A influência política dos Castelo-Branco permitiu que assumissem posições de relevo também no interior dos conselhos e juntas que auxiliaram monarcas portugueses e espanhóis. Entre os vários ramos, avultam senhores que cultivavam saberes como a astronomia, matemática e genealogia. A título de exemplo, tenha-se em consideração que Martinho, primeiro conde de Vila Nova de Portimão, foi íntimo do humanista italiano, residente em Lisboa, Cataldo Sículo; que no espólio fúnebre de um dos seus netos, morto em Alcácer Quibir, se encontrava “um livro de Luis de Camões” e um outro de Ludovico Ariosto; e que Manuel de Castelo-Branco, segundo conde de Vila Nova, foi autor de um livro com árvores genealógicas da aristocracia portuguesa, impresso em 1625, e de uma relação manuscrita acerca da história da sua linhagem.
A Crónica de que agora se trata espelha bem a riqueza de informação circulante no grupo, quanto ao seu passado e ao seu presente. São inúmeros os documentos e os livros citados, pelo que se vê de uma primeira análise. O conhecimento dos arquivos da família era especialmente prezado, e o estudo da Crónica será enriquecido com o de dois outros manuscritos, descobertos no âmbito de um dos projetos antecessores do VINCULUM, o projeto INVENTARQ[ii].
Também em mãos privadas, e generosamente disponibilizado para estudo, em 2015, ao grupo ARQFAM[iii] e, agora, ao projeto VINCULUM, é o Livro da Fazenda do Senhor Conde Meirinho-Mor e rendimento dela e dos seus papeis e outras lembranças. Códice in 4º, de 293 páginas numeradas, encadernado em pele, datado também de 1588, fez parte do Arquivo da Casa de Óbidos onde terá entrado pelo casamento da condessa de Sabugal e Palma com o 2º conde de Óbidos, em 1669. No arquivo da Casa terá permanecido mesmo depois de ter sido entregue, já no século XX, ao marquês de Santa Iria herdeiro dos condes de Óbidos. Está agora nas mãos de um colecionador privado, Arquiteto Jorge Brito e Abreu. Apresenta com a Crónica muitas semelhanças materiais, desde logo o tipo de letra; o seu restauro total, a finalizar em 2023, permitirá a leitura de páginas muito danificadas, e uma analise cuidada.
Já o Tombo do Cartório da Casa de Vila Nova de Portimão, atualmente à guarda do Centro de Documentação do Museu Municipal de Portimão, após compra no mercado livreiro, é proveniente da dispersão do arquivo da Casa de Abrantes pelos proprietários, ao longo da segunda metade do século XX. Ao que tudo indica, foi mandado fazer pelo segundo Conde de Vila Nova de Portimão, com sua direta intervenção; a redação final datará dos primeiros anos do século XVII, mas a empreitada deve ter começado nas últimas décadas da centúria anterior – o que o coloca em provável contemporaneidade com os dois documentos Sabugal. Foi editado e estudado por um dos atuais membros da equipa do projeto, Fábio Duarte, na sua tese de mestrado[iv], no âmbito de programa ARFAM, a decorrer na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da U. Nova de Lisboa desde 2010 e da área de formação em Arquivística Histórica da mesma instituição.
Embora não se saiba, igualmente, quem foi o responsável pela elaboração do Tombo do Cartório, note-se que esta, como as outras iniciativas já referidas, foi acompanhada de perto pelos membros da família Castelo-Branco e levada a cabo num breve intervalo de tempo. Não deixa de ser curioso apontar que, concomitantemente, em 1609, Gaspar Coelho Aranha, prior da vila da Atalaia, terminava a mando do terceiro conde de Sortelha, D. Luís da Silveira, genro do segundo conde de Vila Nova, a composição da Tabuada do cartório da Casa de Sortelha[v]. Aqui, uma vez mais, a reorganização de um arquivo familiar surgia a par da veiculação de uma ideia de memória nobiliárquica e da defesa do património conservado e transmitido durante gerações. O cura arquivista faz uma sugestão que poderá parecer estranha, ou megalómana, mas que afinal reflete a extrema importância conferida aos documentos familiares: o Conde deveria estabelece em Góis, vila principal entre as suas propriedades, um arquivo que albergasse os seus preciosos originais. Este arquivo chamar-se-ia, nem mais nem menos, do que «Torre do Tombo de Goez», e o cura relembra que o segundo conde, avô do atual, mandara fazer uma coleção de grande “tombos” semelhantes aos dos reis, onde registaram os seus bens e direitos. Num contexto alargado, estas composições e reorganizações de arquivos – que, como veremos, irão servir a Crónica – testemunham claramente de uma prática de escrita de gestão e de história-memória-genealogia dos Castelo-Branco e famílias afins, na qual avultam alguns longuíssimos testamentos que são, na verdade, “tratados de domesticidade”, contendo instruções aos sucessores sobre gestão política, económica, religiosa e afetiva das Casas e dos homens e mulheres por elas abarcados.[vi]
Autorias
Se para os dois inventários de Arquivo, as autorias – que se colocam, de resto, de modo diverso do que para um texto literário – estão parcialmente esclarecidas, quanto à Crónica tal não sucede ainda. No momento atual, colocamos mesmo a hipótese de 1588 ser a data não da redação, mas sim de uma cópia, feita para Duarte de Castelo-Branco, mesmo se o texto está dedicado àquele titular. O Prólogo pede vénia de erros de copista que não sabia ler latim, pelo que foi escrito após um exame da cópia, que teve aliás outros acrescentos e retificações expressamente referidos no Prólogo. Este terá sido por copiado após finalizado, incluindo a advertência quanto aos erros, pelo mesmo calígrafo do resto, e colocado no caderno inicial do livro.
Outros indícios apontam para escritas em diversos momentos, ou incorporações de outros textos. No capítulo 57 escreve-se “…foraõ aas mujtas moradas de casas da famosa rua Nova de Lisboa que ora são do meirinho moor dom Duarte de Castelbranco e lhe rendem mais de hum conto de reis”. A menção a Duarte Castelo-Branco é algo indireta, não se parecendo com outras que lhe são feitas como promotor da Crónica; sobretudo, não é referido como chamam “Conde”, título que já detinha em 1588.
Indubitável e impressionante é a quantidade de obras e documentos citados, bem como a qualidade da informação deles tirada, com frequência citações diretas. Transmite a clara noção que alguém estava a trabalhar num arquivo. Dizendo muitos dos capítulos ricos em citações documentais respeito a outros ramos que não os Sabugais, é forte a hipótese de uma empresa conjunta, ou pelo menos abertura dos vários arquivos. D. Manuel de Castelo-Branco, conde de Vila Nova de Portimão, acima referido, poderá ter sido nela central, pela sua mestria e fama como genealogista.
Já a entrega do trabalho em si ao um certo Luís Ferreira de Azevedo, que circula desde o século XIX, a partir de uma nota manuscrita de autor não identificado, no manuscrito, parece-nos pelo menos questionável. É conhecido pela entrada que lhe dedica Barbosa Machado na Biblioteca Lusitana (III: 94), a quem se deve de resto quase todas as informações que dele existem. Terá sido cronista-mor por um pequeno intervalo de tempo no início do séc. XVII e guarda-mor da Torre do Tombo. Na verdade, lendo o elenco de obras dado por Barbosa Machado, nada parece garantir que a Crónica dos Castelo-Branco se identifique com o trabalho aí citado. O que efetivamente se lhe atribui são genealogias de uma série de famílias, entre os quais os Castelo-Branco, “de quem dizia ser descendente”, o que parece indicar um trabalho produzido num espírito inteiramente diferente do da Crónica[vii].
Percursos
Estão por fazer os estudos dos percursos destes valiosos documentos. Terão feito parte da enorme quantidade de documentação de constituição e de gestão produzida pelos vários grupos familiares acima referidos, e outros semelhantes, ligados entre si por matrimónios fortemente endogâmicos que se concentraram ao longo dos séculos 17 e 18 em duas grandes Casas – Abrantes e Santa Iria. Os arquivos destas foram dispersos durante as duas centúrias seguintes, e estão hoje na sua maioria conservados em arquivos públicos e privados – embora exista ainda muito por descobrir, como prova os achados de que agora falamos.
Quanto à Crónica, dados até agora recolhidos permitem saber que fez parte da coleção do arquiteto bibliófilo Jose Maria Nepomuceno e vendida no leilão da mesma, em 1897, a Francisco Arthur da Silva, editor e livreiro[viii]. O catálogo não fornece, lamentavelmente, qualquer indicação sobre a proveniência e não se sabe, pois, como Nepomuceno a adquiriu. Terá feito parte do Arquivo e da Biblioteca da Casa de Óbidos, Palma e Sabugal, cujas histórias de constituição e dispersão estão também por fazer[ix]. O arquivo estaria ainda numa fase de vitalidade em 1836, quando é feito um extenso inventários dos seus milhares de documentos; encontra-se nele o Livro da Fazenda do Senhor Conde Meirinho-Mor (p. 416) mas não a Crónica, o que poderá simplesmente explicar-se pelo facto deste tipo de documentos serem antes conservados nas bibliotecas das Casas. A investigação preliminar conduzida nos inventários de livros existentes no Arquivo da Casa de Sta. Iria não produziu resultados.
Um escasso ano depois do leilão de Nepomuceno, em 1898, Francisco Arthur da Silva irá colocá-lo de novo em leilão, com o valor, a crer na indicação lateral, de 6.500 reis; não terá sido arrematado, pois o Apêndice mostra que ficou para o próprio[x]. A cópia do pequeno extrato existente na Biblioteca Pública de Évora e dado a conhecer por Rafael Moreira em 2022[xi], permite saber que o Arquiteto Nepomuceno a deixava consultar a amigos; desta consulta resultou a dita cópia parcial[xii]. Entre a venda por Francisco Arthur da Silva e o recente aparecimento em leilão, de 2016, há um hiato total.
Deve por fim mencionar-se uma sua versão abreviada num arquivo de família hoje depositado na Casa de Sarmento, em Guimarães. Intitulada Epílogo do livro da linhagem: dos de Castelobranco, é obra de um certo Bernardo Amaral Castelo-Branco. Provém do arquivo de uma casa da região vimaranense, a Casa do Costeado, e (ao contrário do que indica o catálogo online) foi feito já em 1610 – se bem que claramente por alguém que teve acesso à cópia da Crónica que agora nos ocupa.
Futuro
A Crónica e o Livro da Fazenda estão a ser alvo de trabalhos de restauro conservação, e serão posteriormente digitalizados para disponibilização pública. Fazem parte de um conjunto mais vasto de documentação cujo restauro e digitalização foram custeadas pelo projeto VINCULUM. A Crónica será apresentada, em conjunto com os restantes manuscritos, num seminário a realizar na FCSH.NOVA, a 28 de Abril de 2023, organizado pelo projeto, e de cujos resultados informaremos o blog!
[i] Entailing Perpetuity: Family, Power, Identity. The Social Agency of a Corporate Body (Southern Europe, 14th-17th Centuries) – ERC Consolidator grant 819734 .
[ii] Inventários de arquivos de família, sécs. XV-XIX: de gestão e prova a memórias perdidas. Repensando o arquivo pré-moderno EXPL/EPH-HIS/0178/2013 .
[iii] Arquivos de familia, Arquivos de comunidade(s). Arquivística, História, Herança cultural.
[iv] Fábio DUARTE, Herdar, Legar e Registar: o arquivo e o Tombo do Cartório da Casa de Vila Nova de Portimão. Degree: MA in History – specialization in Modern History and History of the Discoveries. FCSH-UNL, 2022.
[v] Análise em Maria de Lurdes ROSA, Penser et organiser les archives de famille, entre histoire et archivistique. In: Les archives familiales dans l’Occident médiéval et moderne: Trésor, arsenal, mémorial [en ligne]. Madrid: Casa de Velázquez, 2021 (généré le 16 septembre 2021).
[vi] O testamento do segundo conde é talvez o mais exemplar, e está publicado (ROSA, op. cit. p. 72); mas os testamentos manuscritos inéditos dos Castelo Branco são de idêntico talhe.
[vii] Neste aspeto não podemos, portanto, concordar com a atribuição feita por Rafael MOREIRA, O casamento da Infanta D. Beatriz em Sabóia (1521) e a mais antiga alusão a Gil Vicente. In: Anais de História de Além-Mar 21 (2020): 349-82 (p. 352-53).
[viii] Francisco Arthur da Silva (ed.), Catalogo da livraria do distincto bibliografico e bibliophilo José Maria Nepomuceno (…). Lisboa: Empreza Editora de Francisco Arthur da Silva, 1897 (lote 2187).
[ix] Margarida LEME– O Arquivo Costa no Arquivo Óbidos Palma Sabugal. In ROSA, Maria de Lurdes (org.) – Arquivos de família, séc. XIII-XX: que presente, que futuro?. Lisboa: IEM; CHAM; Caminhos Romanos, 2012, pp. 279-90. O arquivo foi disperso entre 1995 e 2004; tendo a maior parte sido adquirida em 1995, pelo ANTT, onde se encontra atualmente com o nome de Casa de Santa Iria.
[x] Francisco Arthur da Silva (ed.), Catalogo de uma boa colleçáo de livros raros, curiosos e manuscriptos de varias procedencias. Lisboa: Empreza Editora de Francisco Arthur da Silva, 1898 (lote 1124).
[xi] MOREIRA, O casamento. A descoberta do manuscrito integral da Crónica permitirá corrigir algumas das hipóteses deste artigo, decorrentes da versão disponível ao autor.
[xii] Foi também vendido no leilão de 1898 (catálogo cit. supra, lote 1099, p. 107), no qual é identificado como “cópia de letra moderna” do manuscrito genealógico dos Castelo-Branco.
PhiloBiblon 2023 n. 1 (February) Texts of history, memory and management by a family group of the Portuguese nobility, 15th-16th century: discovery, recovery and study of unpublished manuscripts
Mª de Lurdes Rosa, Margarida Leme, Fábio Duarte e Miguel Ayres de Campos
Instituto de Estudos Medievais
Universidade Nova de Lisboa
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
VINCULUM ERC project
It is with pleasure and enthusiasm that we share the discovery of a long-lost 16th-century noble chronicle and the inventories of two related family archives, both of them only recently recovered – their integrated study is an innovative work in progress.
Discoveries
The manuscript of the 16th-century noble chronicle known as Descendência e linhagem dos Castelo-Branco (hereinafter Crónica), dated 1588, contains a long text of 261 folios, in elegant and careful script. In one hundred and sixteen chapters, it narrates the history and genealogy of a family group of Portuguese nobility, the Castelo-Brancos, and is dedicated to one of its illustrious members of the period, Duarte Castelo-Branco, Count of Sabugal, meirinho-mor and vedor da Fazenda of the kingdom of Portugal. It is owned by a private collector, Doutor Miguel Ayres de Campos, who has generously loaned it to the VINCULUM project to be studied and edited.
This project, funded by the European Research Council, aims to study the functioning of the institutions of primogeniture (morgados) and chantry (endowed) chapels (vinculação/entailment) in Portugal and its Atlantic territories, in comparison with the same institutions in other kingdoms of southern Europe.[i] The way in which social groups used the establishment of vínculos/entails to reinforce their identity and symbolic wealth is one of the study areas of the VINCULUM project, in which materials such as genealogical and family narratives have great relevance. In addition, the Castelo-Branco family group, which comprised several strong, wealthy and influential nuclei at the Portuguese Court from the beginning of the 15th century, will be one of the most interesting case studies of the project.
A common feature of the various nuclei, including that of the Count of Sabugal, was the attention given to archives and the information management practices of the various houses and estates; another was the cultivation of the fine arts and various kinds of technical and scientific knowledge. Legal and accounting literacy allowed different members of the group to gain access for generations to top positions at court, linked to law and the management of the kingdom and royal property, from the House of the Civil Court to the treasury and the meirinhato-mor. The Castelo-Branco’s political influence allowed them to assume important positions within the councils and boards that assisted and advised Portuguese and Spanish monarchs. Among the various branches were lords who cultivated fields such as astronomy, mathematics, and genealogy. A few examples: Martinho, first Count of Vila Nova de Portimão, was a close friend of the Italian humanist and Lisbon resident, Cataldo Sículo; in the estate of one of his grandsons, killed at the battle of Alcácer Quibir, there was “a book by Luis de Camões” and another by Ludovico Ariosto; Manuel de Castelo-Branco, second Count of Vila Nova, was the author of a book with family trees of the Portuguese aristocracy, printed in 1625, and a handwritten account of the history of his lineage.
The Crónica reflects the wealth of information circulating in the group about its past and present. It cites numerous documents and books, as a preliminary analysis has shown. Knowledge of the family archives was especially prized, and the study of the Crónica will be enriched by that of two other manuscripts, discovered within the scope of one of VINCULUM’s predecessor projects, the INVENTARQ project[ii].
Also in private hands, and generously made available for study in 2015 to the ARQFAM group[iii] and now to the VINCULUM project, is the Livro da Fazenda do Senhor Conde Meirinho-Mor e rendimento dela e dos seus papeis e outras lembranças (Book of the Estates and property of the Lord Count Meirinho-Mor, his income, papers and other mementos). A codex in 4º, with 293 numbered pages, bound in leather, also dated 1588, it formed part of the House of Óbidos Archives, where it probably entered through the marriage of the Countess of Sabugal and Palma to the 2nd Count of Óbidos in 1669. It remained in the Óbidos archives even after they passed in the 20th century into the hands of the Marquis of Santa Iria, heir of the counts of Óbidos. It is now owned by a private collector, the architect Jorge Brito e Abreu. It has many material similarities with the Crónica, such as the script; the restoration of severely damaged pages, to be completed in 2023, will make possible a careful analysis.
The Tombo do Cartório do Casa de Vila Nova de Portimão, currently in the custody of the Centro de Documentação do Museu Municipal de Portimão, after purchase from the book trade, comes from the dispersal of the House of Abrantes archive by its owners during the second half of the 20th century. It was apparently commissioned by the second Count of Vila Nova de Portimão, with his direct intervention; the final redaction dates from the early 17th century, but the work must have begun in the last decades of the previous century – which makes it probably contemporary with the two Sabugal documents. It was edited and studied by one of the current members of the project team, Fábio Duarte, in his master’s thesis as part of the ARQFAM program,[iv] which has been underway at the Faculty of Social and Human Sciences at the Universidade Nova of Lisbon since 2010, and the training program in Historical Archival Studies at the same institution.
Although it is also not known who was responsible for preparing the Tombo do Cartório, it should be noted that this, like the other initiatives already mentioned, was closely monitored by members of the Castelo-Branco family and carried out in a short period of time. It is also interesting to note that, at the same time, in 1609, Gaspar Coelho Aranha, the prior of the village of Atalaia, was completing the Tabuada do cartório da Casa de Sortelha (Table of contents of the Cartulary of the House of Sortelha), ordered by the third Count of Sortelha, D. Luís da Silveira, son-in-law of the second Count of Vila Nova.[v] Here, once again, the reorganization of a family archive went hand in hand with the propagation of an idea of noble memory and the defense of a heritage preserved and passed down for generations. The archivist makes a suggestion that may seem strange, or megalomaniac, but which ultimately reflects the extreme importance attached to family documents: the Count should establish in Góis, the main town among his estates, an archive that would house his precious originals. This archive would be called the “Torre do Tombo de Goez,” and the chaplain recalls that the second Count, grandfather of the current Count, had ordered a collection of large “tombos,” cartularies, similar to those of kings, in which they recorded their properties and rights. In a broader context, these compositions and reorganizations of archives – which, as we shall see, underpin the Crónica – are clear evidence of a practice of management by writing, and history-memory-genealogy of the Castelo-Branco and related families, which includes some very long wills that are, in fact, “treaties of domesticity,” containing instructions for successors on the political, economic, religious and affective management of the Houses and the men and women they encompassed.[vi]
Authorship
If for the two archival inventories, the authorship – which is different from that of a literary text – is partially understood, this is not yet so for the Crónica. At the present time, we even hypothesize that 1588 is the date not of composition but of a copy made for Duarte de Castelo-Branco, despite the fact that the text is dedicated to him. The Prologue asks for forgiveness for the errors of a copyist who could not read Latin – which points to the fact that it it was written after the rest of the text, which has other additions and rectifications expressly mentioned in the Prologue. This initial part was thus probably copied after the Crónica was finished, with the warning about the errors, by the same scribe as the rest, and placed in the book’s initial gathering.
Other indications point to writings at various times or the incorporation of other texts. In chapter 57 one finds “…foraõ aas mujtas moradas de casas da famosa rua Nova de Lisboa que ora são do meirinho moor dom Duarte de Castelbranco e lhe rendem mais de um conto de reis.” […there were many dwellings in the famous Rua Nova of Lisbon that now belong to the merinho mor lord Duarte de Castelobranco and bring him in as rent more than 100,000 reis]. The reference to Duarte Castelo-Branco is somewhat indirect, not like others that mention him as promoter of the Crónica; above all, he is not mentioned as “Count,” title he already held in 1588.
Undoubtedly impressive is the quantity of works and documents cited as well as the quality of the information taken from them, often direct quotations. It conveys the clear notion that someone was working in an archive. As many of the chapters rich in document citations concern branches other than the Sabugais, the hypothesis of a joint venture, or at least consultation of various archives, is strong. D. Manuel de Castelo-Branco, Count of Vila Nova de Portimão, mentioned above, may have been central to it, given his mastery and fame as a genealogist.
In contrast, the attribution of the text to a one Luís Ferreira de Azevedo, which originated in note in an unidentified hand on the manuscript and has been circulating since the 19th century, seems to us at least questionable. Ferreira de Azevedo is known by the entry dedicated to him by Barbosa Machado in the Biblioteca Lusitana (III: 94), to which we owe almost all the information known about him. He might have been chronicler-major for a short time in the early 17th century and head keeper of the Torre do Tombo. In fact, reading the list of works given by Barbosa Machado, nothing seems to identify the Crónica with the titles cited. What is effectively attributed to him are genealogies of a series of families, among them the Castelo-Branco family, “from whom he claimed to be descended,” which seems to indicate a work produced in an entirely different spirit from that of the Crónica.[vii]
Provenance
Studies of the provenance of these these valuable documents have yet to be undertaken. They would have formed part of the enormous quantity of documentation produced by the various family groups mentioned above and others like them, linked together by strongly endogamous marriages, which came to be concentrated in the 17th and 18th centuries in two great Houses – Abrantes and Óbidos. Their archives were dispersed over the following two centuries and are today mostly preserved in public and private archives – although there is still much to be uncovered, as proven by the discoveries we are discussing now.
As for the Crónica, data gathered so far allows us to know that it came to be part of the collection of the bibliophile architect Jose Maria Nepomuceno and was sold at his auction in 1897 to Francisco Arthur da Silva, publisher and bookseller.[viii] The sale catalogue unfortunately gives no indication of provenance and it is not known, therefore, how Nepomuceno acquired it. It must have been part of the Archive and Library of the House of Óbidos, Palma and Sabugal, the histories of whose constitution and dispersal are yet to be written.[ix] The archive was still active in 1836 when an extensive inventory of its thousands of documents was made; in it can be found the Treasury Book of the Lord Count Meirinho-Mor (p. 416) but not the Crónica, which can be explained quite simply by the fact that this type of documents were kept in the House libraries, not the archives. Preliminary research conducted on the book inventories in the Casa de Santa Iria Archive, however, was fruitless.
A year after Nepomuceno’s auction, in 1898, Francisco Arthur da Silva put the Crónica up for auction again, with a reserve price, according to the handwritten note on the margin of the auction, of 6.500 reis; it seems that it did not sell, since the Appendix shows that it was left to the owner.[x] The copy of the small extract held in the Biblioteca Pública de Évora and published by Rafael Moreira in 2022, allows us to know that Nepomuceno used to let friends consult the Crónica[xi]; which was apparently the source of this partial copy.[xii] There is a total gap between the sale by Francisco Arthur da Silva and the Crónica’s recent appearance at auction in 2016.
Finally, we should mention the existence of an abridged version of the Crónica in a family archive now held at Casa de Sarmento. Entitled Epílogo do livro da linhagem: dos de Castelobranco (Epilogue of the book of the lineage: dos de Castelobranco), it is the work of a certain Bernardo Amaral Castelo-Branco. It comes from the archive of a house in the Guimarães region, the Casa do Costeado, and (contrary to what the online catalog indicates) was made as early as 1610 – clearly by someone who had access to the copy of the Crónica.[xiv]
Future
The Crónica and the Livro da Fazenda are undergoing conservation work and will later be digitized for public availability. They are part of a larger set of documents whose restoration and and digitization were sponsored and funded by the VINCULUM project. The Crónica will be presented and studied, along with the remaining manuscripts, in a seminar to be held at the Faculty of Social and Human Sciences of the Universidade Nova de Lisboa, on April 28, 2023, organized by the project, and of whose results we shall inform the blog!
[i] Entailing Perpetuity: Family, Power, Identity. The Social Agency of a Corporate Body (Southern Europe, 14th-17th Centuries) – ERC Consolidator grant 819734.
[ii] Inventários de arquivos de família, sécs. XV-XIX: de gestão e prova a memórias perdidas. Repensando o arquivo pré-moderno. Project EXPL/EPH-HIS/0178/2013.
[iii] Arquivos de familia, Arquivos de comunidade(s). Arquivística, História, Herança cultural.
[iv] Fábio DUARTE, Herdar, Legar e Registar: o arquivo e o Tombo do Cartório da Casa de Vila Nova de Portimão. Degree: MA in History – specialization in Modern History and History of the Discoveries. FCSH-UNL, 2022.
[v] Studied in Maria de Lurdes ROSA, Penser et organiser les archives de famille, entre histoire et archivistique. In: Les archives familiales dans l’Occident médiéval et moderne: Trésor, arsenal, mémorial [en ligne]. Madrid: Casa de Velázquez, 2021 (généré le 16 septembre 2021).
[vi] The second count’s will, perhaps the most exemplary, is published (ROSA, Penser. p. 72); but the Castelo Branco’s unpublished handwritten wills are of identical style.
[vii] In this aspect we cannot therefore agree with the authorship attribution made by Rafael MOREIRA, O casamento da Infanta D. Beatriz em Sabóia (1521) e a mais antiga alusão a Gil Vicente. In: Anais de História de Além-Mar 21 (2020): 349-82 (p. 352-53).
[viii] Francisco Arthur da Silva (ed.), Catalogo da livraria do distincto bibliografico e bibliophilo José Maria Nepomuceno (…). Lisboa: Empreza Editora de Francisco Arthur da Silva, 1897 (lote 2187).
[ix] Margarida LEME– O Arquivo Costa no Arquivo Óbidos Palma Sabugal. In ROSA, Maria de Lurdes (org.) – Arquivos de família, séc. XIII-XX: que presente, que futuro?.Lisboa: IEM; CHAM; Caminhos Romanos, 2012, pp. 279-90. The archive was dispersed between 1995 and 2004 and most of it was acquired in 1995, by the ANTT, where it is currently located under the name of Casa de Santa Iria.
[x] Francisco Arthur da Silva (ed.), Catalogo de uma boa colleção de livros raros, curiosos e manuscriptos de varias procedencias. Lisboa: Empreza Editora de Francisco Arthur da Silva, 1898 (lote 1124).
[xi] MOREIRA, O casamento. The discovery of the full manuscript of the Crónica will allow us to correct some of the assumptions in this article, which arose from the version available to the author.
[xii] It was also sold at the Silva 1898 auction (catalog cited above, lot 1099, p. 107), in which it is identified as a “modern handwritten copy” of the Castelo-Branco genealogical manuscript.